qual família?
cada um em sua casa.
cada um na sua família.
cada um na sua.
ainda que a família se represente por si só.
e se esvaia de todos nós.
lembro na infância, que todos estávamos juntos.
com a criançada da vizinhança vinham as famílias também.
e estávamos mais juntos e vivíamos mais intensamente.
era importante conhecer a outra família e com quem os filhos se "misturavam".
mas junto disso, éramos de fato mais unidos.
queríamos estar mais juntos e de um número maior de pessoas.
se possível, queríamos o mundo todo do nosso lado.
acho que mesmo com antipatia, havia uma necessidade de estar junto, o contato humano era crucial.
ainda que convivendo com contrastes, havia o olhar para o outro.
me lembro de na minha rua, ter o cineminha, onde era projetado um filme na parede que dividia a minha casa com uma casa germinada da esquina de minha rua.
vinha gente de todo o lado, era uma euforia.
e todos gostávamos de estar ali, juntos, presentes a cada projeção.
a rua era de todos e queríamos mais gentes.
e as brincadeiras. cada rua tinha sua turma, mas de vez em quando estávamos numa ou em outra.
não podíamos ir longe para não ficarmos de castigo.
e os amigos iam um na casa do outro.
todas as casas eram meio nossas também.
assim como abrigávamos tanta gente.
e as vizinhas vinham em casa ver televisão. me lembro de alguns momentos juntos.
alguns por que, muitos mais estava na rua com toda a criançada.
e a rua era nossa casa também.
e todos conheciam-se mutuamente. sabíamos pela convivência a característica de cada um.
estávamos aptos sem saber, a traçar o perfil de cada um que convivíamos, seus pontos fortes e seus vacilos.
até alguns segredos conseguíamos perceber em cada olhar.
nos conhecíamos intimamente, por meio de brincadeiras e cada dia havia um desejo maior de nos vermos novamente.
e quando alguém não podia sair, todos sofriam juntos de certa forma.
hoje por algum descuido ou acidente, restringimos nos laços afetivos, reduzimos ao máximo nosso visão de família, onde o individualismo está nos afastando do número cada vez maior de pessoas, e conseguindo afastar até de nós mesmos.
esvaímos nossas almas, em troca de uma funcionalidade, de um utilitarismo, de uma virtualidade, que leva o essencial da vida em meio ao imediatismo, o descobrir-se em si, na presença do outro.
o outro que um dia conseguimos olhar como alguém de nossa família.
família esta humana e quiçá espiritual.
paulo jo santo
zilá