ALTA TECNOLOGIA E QUALIDADE BAIXA DE VIDA: UMA REFLEXÃO BIOÉTICA

Uma ação virtuosa, em Bioética, deve consistir em reduzir efeitos danosos ou eliminar consequências tecnológicas nocivas ao mundo natural. O universo da ficção científica dialoga com a mesma preocupação central da Bioética: o impacto negativo do desenvolvimento da tecnologia na sociedade industrial de consumo.

Alta tecnologia e baixa qualidade de vida ("High-tech, low-life") é um tema recorrente em obras literárias catalogadas pelo subgênero de ficção científica "cyberpunk". O escritor estadunidense, Bruce Sterling, um dos pioneiros da literatura cyberpunk, sintetiza a reflexão bioética presente neste universo literário com as seguintes palavras: "Qualquer coisa que se possa fazer a um rato, poderá também ser feita a um ser humano; e podemos fazer quase qualquer coisa aos ratos. É duro pensar sobre isto, mas é a realidade. E a realidade não mudará se continuarmos simplesmente fechando nossos olhos. Isto é 'cyberpunk'." Como subgênero de literatura científico-ficcional, a literatura cyberpunk perpetra duras crítica ao paradigma do niilismo tecnocientífico, cujas origens remontam ao período da Segunda Guerra Mundial.

O documentário “Arquitetura da Destruição” (1989), de Peter Cohen, célebre, essencialmente, por abordar as motivações do genocídio do totalitarismo nazifascista germânico sob o prisma estético, é outro grande alerta frente aos terrores da instrumentalização da vida em nome do progresso científico. No retrato de Cohen, a redução da vida humana — e de outros muitos organismos vivos — em produtos de engenharia e meras engrenagens da maquinaria social, encontra-se no plano de fundo da revitalização estética proposta pelo regime totalitário liderado por Hitler na Alemanha nazista.

Todos os grandes dilemas morais e políticos que são alvos atuais das pesquisas Bioéticas, como por exemplo: o aperfeiçoamento dos seres vivos via manipulação genética, o aborto e as pesquisas laboratoriais em animais e humanos; dizem respeito aos riscos do uso irrefletido dos organismos vivos, bem como do ecossistema planetário, pela grande demanda da indústria de consumo por novas sofisticações tecnológicas aplicadas à vida moderna.

A degradação do mundo natural e o sofrimento físico e psicológico infligido à vida cotidiana, que marcou para sempre a Segunda Guerra Mundial como um dos episódios mais sombrios da história da civilização, devem ser encarados, principalmente, como um subproduto do conforto oriundo do progresso científico tão estimado na atual sociedade de consumo.

Aislan Bezerra
Enviado por Aislan Bezerra em 14/02/2016
Reeditado em 09/04/2017
Código do texto: T5543367
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