Backspace

Quando estamos diante de um teclado de computador e nos deparamos com a tecla backspace, vislumbramos algo que nos faz questionar o tempo, já que o nome remete ao retrocesso. Como se fizéssemos o processo de forma contrária. Voltamos, o que significa que retornamos ao ponto inicial e fica a pergunta, realmente voltamos?

Acabamos de escrever um parágrafo e a mão coça de vontade em apertar a tecla que fará tudo voltar ao ponto incial. O sonho de muitos em poder voltar ao passado, ignorando a necessidade do tempo em se manifestar em esferas interligadas, já que presente e futuro fazem parte também da temporalidade. Mas a cada clique dado, percebemos que os caracteres vão sumindo, sendo apagados pela violência que o desejo de voltar impõe. Como uma divindidade, vamos deletando aquilo que consideramos incorreto ou não pertinente, feito num dilúvio que busca exterminar o feito.

Nossa responsabilidade está justamente na consequência causada pelo ato, que modifica o que ali estava, ao contrário de promessa em restituir o processo, aqui temos a diluição do mesmo, que vai se desagregando em cada caractere. Imaginamos que talvez faça parte de um processo inverso, já que em vez de cada teclada ir causando um elemento, as mesmas tecladas os fazem deixar de ser uma causa, caindo no esquecimento. Devemos lembrar que o ato de criar é muito mais penoso, já que uma soma de dedos, acoplados em suas falanges vorazes, apalpam diferentes posições do teclado até formar uma frase, mas que basta um único dedo na mesma tecla, em ritmo contínuo para que tudo se apague.

Então deduzimos que o processo é diferecnaido e que podemos imaginar que o movimento processual, no ato de apagar, faz uma curva que busca ao contrário das ondulações da criação, criar uma certa linearidade na fuga. Só que ainda não definimos um ponto de encontro, aquele local que ocorre a convergência enre o criado e o destruído.

Ao contrário da busca por aquele caminho que a ida ou a volta das teclas percorrem, devemos nos deter no momento que realmente seria o inicial. A folha em branco, que caracteriza o momento de impressão da grafia e que depois de alterada, ainda que apaguemos a escrita, registra as ranhuras que uma ponta lhe impôs. No hipertexto, a tela aparentemente volta ao status inicial, que serria sem preenchimento. Esse vazio se torna o ponto convergente, de onde partimos, o cursor piscando que indica o caminho, feito reticências pedindo extensão. Embora saibamos que a função das reticências é manter em aberto, deixar a ferida exposta sem sutura.

Partimos do vazio e para ele retornamos, ainda que fique uma memória impressa nos bits, fazendo com que a tela se torne uma outra folha de papel que busca negar a sua alteração, apesar de jamais poder retornar ao momento inicial ou o que poderíamos chamar de Big Bang, embora saibamos que o vazio estaria lá, desde o início, aguardando esse deslizar que é semrpe superficial, num espaço que se faz e refaz, respeitando suas limitações e por isso mesmo primando o movimento, que cria a dinâmica entre os que se desarrumam por estarem a princípio muito bem arrumados.

Chegamos a conclusão que o backspace representa essa volta ao que nunca deixou de ser o mesmo e que nega essa mesmice na sua relação límitrofe que a linguagem cria, como na relação entre o computador e o homem , onde ambos dialogam apenas na interação, já que a máquina está posta, como uma ferramenta que necessita de uso e o sujeito que faz uso dela, também não passa de um dependente, já que precisa da mesma para executar o que ela lhe possibilita. Dentro do virtualismo parece até mesmo não existir esse dálogo e apenas o sujeito humano ser protagonista, até uma penha ou algo que demonstre o não controle do aparente executor. Mas a pane também pode causar um trauma na máquina, que tem suas funções limitades, dependendo da gravidade.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 22/01/2016
Código do texto: T5519433
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