Quando os frutos apodrecem
Em janeiro de 1959, as ruas de Havana, capital de Cuba, foram tomadas por uma multidão fervorosa que exaltavam o fim da ditadura implacável de Fulgêncio Batista. Os cidadãos recebiam de braços abertos os seus “salvadores”: Fidel Castro, Raul Castro e Che Guevara cabeças do movimento armado 26 de Julho. Jovens idealizadores, cheios de vitalidade que buscavam libertar Cuba da ditadura que alimentava o monstro capitalista escravizador do povo cubano. Na concepção dos jovens do movimento, o capitalismo era um mal comando pelos Estados Unidos que deveria ser eliminado.
A empolgação estava além do fato de estarem derrubando uma ditadura. A ideia de jovens revolucionários era algo poético que contagiava a todos. O tempo parou naquele dia, como em qualquer momento mágico. A emoção soberbamente preponderava, ofuscando o lado racional de ambas as partes. O povo e seus “salvadores” estavam imersos em um sentimento ideal que estava muito além da realidade em que viviam e que estavam por viver. Arraigados aos ideais do socialismo, os irmãos Castro e Che fizeram com que todos os laços que o país tinha com os Estados Unidos fossem cortados. E o sonho de dias melhores não passou do mundo ideal. A democracia foi morta e ali nunca mais nasceu. Uma ditadura foi derrubada e logo outra se ergueu. O tempo parou em um instante mágico e deixou Cuba estática no pesadelo dos grilhões castristas, que hoje em dia parece sentir a ferrugem de novos tempos a corroer.
Voltando para o Brasil. A derrubada da ditadura foi um feito, até o dado momento, sucedido. Apesar dos grupos armados que promoviam assaltos para manter os custos “provenientes” da busca pela causa, nenhum conseguiu tomar o poder e impor, “inocentemente” algum tipo de ditadura. No máximo, nossos “aspirantes” a castristas conseguiram chegar ao poder de forma democrática.
As histórias das grandes revoluções e levantes públicos mostram que, boa parte dos frutos tentadores que seus idealizadores apresentam a um povo faminto por mudanças, acabam apodrecendo ao tocar a acidez do mundo real e suas tentações que, normalmente, acabam devorando a imagem de heróis e mostrando a fragilidade intrínseca presente na natureza dos homens. Uma fragilidade intrínseca, porém contornável.
As recentes manifestações deram novos ânimos ao cenário político e ao ser politizado existente dentro de todos nós. As manifestações estão sendo um feito histórico. O que se espera são eleitores conscientizados, e o surgimento de políticos de bem. Mas, muitos oportunistas serão catapultados ao poder por essas manifestações, da mesma forma que muitos devem cair. No entanto, o impacto real de todos estes acontecimentos futuramente é incerto. O que todos esperam é que os frutos cultivados e apresentados nestas manifestações não apodreçam, diante da realidade e dos problemas que corrompem os administradores de nossa máquina pública.