Vilão, Revolução do Excluído

Observamos em diversas histórias o papel desempenhado por figuras protagonistas, estando muitas vezes relacionados a uma dualidade que gera dicotomia entre um herói e seu arqui-inimigo, ou o vilão, termo adotado posteriormente aos que viviam em vilas. O curioso é justamente essa necessidade de se apaixonar por aquele transgressor, o chamado malvado. Não é de hoje a simbologia que o inimigo carrega, sendo cercado também de seguidores que buscam para si essa referência considerada contrária aos interesses vigentes. Eis a questão.

Quando era pequeno e assistia o desenho do He-Man e torcia para o Esqueleto, o grande lance não é o fato do malvado ganhar e uma natureza infantil propensa a maldade ou coisa do tipo, já que muitas vezes ainda nem formamos essa concepção, devido a falta de material ideológico que possibilite formatar uma tendência.

Percebemos primeiramente o herói em destaque, fazendo com que ele passe a ser o grande referencial. Mas quantos de nós se encaixariam naquele modelo? Pensando nos homens com corpos de super-heróis das academias, que buscam fazer crescer os músculos, quem sabe com intuito de salvar alguém através de sua “super-força”. Só que os interesses muitas vezes são outros. Lembremos que o herói fica com a “mocinha”, pensando naquele papel másculo de uma cultura machista. Mas ainda que possamos inverter os papéis, o herói é aquele que de forma geral segue as regras e faz com que ela seja mantida. Isso faz diretamente associarmos, muitas vezes, a figura do policial a do herói, já que ambos buscam servir a sociedade e manter a ordem estabelecida.

Em contrapartida, o vilão é aquele agente revolucionário que contesta a ordem vigente, por justamente não seguir as regras do jogo pré-estabelecido, tanto podendo destruí-las com intuito de averiguar o que poderia surgir de um novo processo, quando de já ter estabelecida uma ordem e queira que a sua passe a ser a vigente. O vilão em muitas histórias em quadrinhos demonstra um passado de traumas e frustrações, não conseguindo se enquadrar nesse modelo que o exclui. Isso não seria uma apologia ao vilão, mas apenas uma outra perspectiva a respeito, já que essa figura também aparece como sendo central em uma trama.

Temos um terceiro momento, onde o inimigo se faz necessário, já que ele faz com que o herói seja obrigado a rever seus valores e muitas vezes provoque mudanças, ainda que não consiga perverter totalmente a estrutura. Pensando nesse duelo como algo dialético, vemos que nem mesmo Jeohvah conseguiu se fazer onipotente sem a presença constante de Satã, no Novo e Antigo Testamentos, pela necessidade desse elemento questionador.

Mais do que simplificar em uma dualidade, o objetivo é verificar esse elemento de exclusão, que aparece como motivacional, não apenas na ficção, mas também no dia-a-dia, fazendo com que as pessoas busquem essa identificação por conta de uma opressão que classifica e coloca todo aquele que não é vencedor, ou seja herói, no outro lado da moeda, fazendo com que assuma o caráter de vilão. Alguns afirmam que o maior inimigo é o que existe dentro de nós mesmos. Talvez sejam apenas pessoas egocêntricas, mas podemos também imaginar que isso se deva a esse conflito entre certo e errado, bem como outras escolhas que sente-se no íntimo, fazendo com que certas posturas vejam florescer, tais como inveja, trapaça e outros mecanismos e burlar a ordem e de alguma forma usurpar o lugar do herói.

Quantos heróis não deixariam de existir se os seus inimigos não desaparecessem? Quantos de nós, diante do espelho, em uma reflexão mais profunda, não nos identificamos mais com aqueles adjetivos que encontramos no Coringa, no Lex Luthor, no Rei do Crime, do que aquela imagem distante de um Super-Homem, a riqueza de um Bruce Wayne, ou mesmo conseguir lidar com a tragédia de um Demolidor?

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 23/05/2015
Código do texto: T5252199
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