MOURA LIMA,CIDADÃO PIAUIENSE
MOURA LIMA, CIDADÃO PIAUIENSE
Francisco Miguel de Moura*
Nestes dias, o Sr. Jorge Lima de Moura, escritor que adota o nome literário de MOURA LIMA, estará entre nós recebendo da Assembléia Legislativa do Piauí o título de CIDADÃO PIAUIENSE. O autor do projeto foi o Deputado Homero Castelo Branco, memorialista, folclorista e cronista com livros publicados e participação na imprensa. Os escritores William Palha Dias, Herculano Moraes, Francisco Miguel de Moura e mais alguns se empenharam, levando o desejo, os subsídios e informações ao Dep. Homero, e tudo fluiu normalmente na Casa do Povo. Membro da Academia Tocantinense de Letras, Membro Correspondente da Academia Piauiense de Letras e de outras instituições, o escritor Moura Lima continua publicando nos jornais e revistas daquele Estado, artigos, reportagens, biografias e críticas de autores piauienses e sobre o Piauí. No último livro dele – de ensaios muito bem urdidos e com nova técnica de crítica sobre obras e autores brasileiros contemporâneos ou não – de título “Zênite, a Linguagem dos Trópicos”, saído já este ano, inclui três ensaios sobre os piauienses William Palha Dias, Francisco Miguel de Moura e Alvina Gameiro; a orelha da publicação é de Adrião Neto; e o prefácio, de Francisco Miguel de Moura. Para que livro mais piauiense do que esse?
Autor de várias obras da maior importância para a literatura brasileira, elogiado por Assis Brasil e Clóvis Moura, MOURA LIMA é descendente dos MOURA ALENCAR da região de Picos e sente-se honrado por isto, o que proclama aos quatro ventos. Por essa razão está registrado no livro “DE MOURA AOS MOURA FÉ – RESGATE DE UMA TRAJETÓRIA”, da Profa. Iracilde Moura Fé (Universidade Federal do Piauí). MOURA LIMA mereceu também um livro de ensaios escritos por Francisco Miguel de Moura, que foi lançado em Tocantins e também em Teresina (Academia Piauiense de Letras), em 2002.
Sendo não apenas contista, mas romancista de peso (“Serra dos Pilões”), Moura Lima é o fundador da literatura tocantinense e criador de uma linguagem ficcional nova. Enfoca velhos temas como coronéis, jagunços, bandoleiros, matadores, tropas, boiadas, lendas do sertão das Gerais, território que engloba o norte de Goiás (hoje Tocantins), o sul do Piauí e Maranhão e o oeste da Bahia, onde uma civilização foi plantada aos trancos e barrancos, sem lei nem rei. Ali, a honra era lavada com sangue, pela boca das carabinas, crimes bárbaros eram praticados em lutas devastadores e intermináveis pela posse de terras, pedras preciosas e outras riquezas naturais. Desse mundão de matutos, roceiros, mandões, mandados, criadores, vaqueiros, lavradores, pobres desvalidos e excluídos são tecidas as suas histórias e estórias, sejam verdadeiras, lendárias ou inventadas, com linguagem e palavras próprias do homem ainda em estado selvagem. Assim, cidades foram plantadas (e destruídas), terras foram lavradas, rios foram sendo navegados e explorados, estradas feitas pelo casco de burros, éguas e cavalos, senão pelo rastro dos homens que abriam as primeiras picadas a foice, facão e peixeira. Desse vocabulário, dessa linguagem cabocla apropria-se Moura Lima, ora tratando-o de maneira bem literária, ora apanhando-o ainda virgem para mostrar a força da terra, num tempero estilístico que deu o novo regionalismo da literatura brasileira. E prova, enfim, que “tudo que é real é racional”. Mas não só isto, todo o real é capaz de ser transformado em arte, em literatura.
Moura Lima é tão brasileiro quanto Guimarães Rosa, José Candido de Carvalho e tantos outros que se interessaram por nossa gente do interior, ignorada, ele é nosso irmão, companheiro de estrada da vida e da escrita, elevando o Piauí tanto quanto o faz com sua terra. E assim bem merece todos os títulos, especialmente este de cidadão piauiense, que, na verdade, já era, só precisava ser oficializado. Bem vindo seja.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, PI. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br