incógnito.

como espólio, de uma guerra

dessa luta qualquer

que travei comigo mesmo,

sobrou minha timidez.

ela é ácida,

persevera sempre.

consegue me trair sempre

e a todo instante.

apesar de estar sentindo

um sincero contentamento,

sinto-me sorver aos poucos,

tonteio-me.

como resultado:

fico inexpressivo,

totalmente desnudo,

exposto.

exposto estou e sou

pelas minhas próprias criações mentais.

são resquícios de imagens,

pensamentos, lembranças...

lembranças algumas que até

procuro duvidar de sua realidade.

concretudes que são doloridas

mesmo com o passar dos anos

e de tantas circunstâncias.

fantasmas me rondam,

com meus desejos incontidos,

irrealizáveis,

como fazem questão de se apresentar.

como se projetassem num espelho embaçado,

disformes e irreais.

na minha timidez,

não consigo disfarçar o meu olhar,

não consigo disfarçar-me

do que sou,

ou melhor dizendo,

de como estou,

ou não estou,

nem sei.

sei que talvez sou vítima de alguma loucura,

vítima de um desejo meu,

que parece ser irrealizável.

mas se não o é, coloca-se muito distante,

quase intangível.

não sei se o sonho mais.

uma amiga-irmã minha disse uma vez,

que nós, que amamos

que amamos de outra forma,

trazemos em nossa alma, algo peculiar

é como se um fio de tristeza fosse nosso código comum.

trazemos uma certa dor no ser.

pode ser, mas essa dor se fez em mim

timidez.

e com esta roupagem ela se protege,

se camufla.

cria sua própria identidade,

emanando uma tristeza vã,

desconfortante,

podendo até não ser depressiva,

mas presente.

o lado mais perverso desse processo,

é que desaprendo cada dia mais,

a ficar entre as pessoas naturalmente.

me calo, fico apático, por vezes inexpressivo.

acho que até incógnito.

Paulo Jo Santo

Coisas da Zillah

Paulo Jo Santo
Enviado por Paulo Jo Santo em 22/02/2015
Reeditado em 23/02/2015
Código do texto: T5146165
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