anos e anos.

anos e anos de uma profunda solidão

e esta brinca comigo,

envolve meu corpo,

anestesia meu ser,

veda meus olhos,

não me deixa enxergar direito

o que há para ser visto

ao longo do horizonte.

e o que está próximo,

parece turvo ao sentido.

ironicamente,

a maior certeza de ter

uma companhia garantida,

é da presença constante da solidão,

ainda que logo mais.

finge estar comigo, se faz entidade.

fica a espreita,

só esperando o que faço passar,

para marcar sua presença.

hoje converso com minha solidão.

pensamos juntos.

hoje divido tudo de mim com ela,

ela me conhece profundamente,

sabe tudo o que penso

e até me dá conselhos.

mas não se iluda, pois

de verdade com sua frieza

me engole, fingindo acalentar-me.

sua parceria comigo,

parece desejar sempre o incerto,

quer extrair de mim a máxima dúvida,

não deixa que pise firme o solo sagrado,

esnoba de minha segurança,

sussurra em meus ouvidos,

muito sobre a minha timidez,

reforçando-a cada vez mais.

mas é tão astuta que nem causa dor mais,

pois como a picada do morcego,

que a vítima nem sente,

assim é a minha solidão,

está lá a sugar, a lamber a seiva,

mas oferece um anestésico potente,

que disfarça a enorme dor que causa,

que esconde a ferida aberta.

mas mesmo com este sangue que escorre,

das mordidas da solidão,

dos olhos enevoados,

da incerteza, da inconstância

e de tantas coisas mais,

ainda assim, por anos e anos a mais,

é a solidão que parece estar firme

e dá garantias,

que jamais irá me abandonar.

paulo jo santo

coisas da zillah

Paulo Jo Santo
Enviado por Paulo Jo Santo em 03/02/2015
Reeditado em 06/02/2015
Código do texto: T5124110
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