anos e anos.
anos e anos de uma profunda solidão
e esta brinca comigo,
envolve meu corpo,
anestesia meu ser,
veda meus olhos,
não me deixa enxergar direito
o que há para ser visto
ao longo do horizonte.
e o que está próximo,
parece turvo ao sentido.
ironicamente,
a maior certeza de ter
uma companhia garantida,
é da presença constante da solidão,
ainda que logo mais.
finge estar comigo, se faz entidade.
fica a espreita,
só esperando o que faço passar,
para marcar sua presença.
hoje converso com minha solidão.
pensamos juntos.
hoje divido tudo de mim com ela,
ela me conhece profundamente,
sabe tudo o que penso
e até me dá conselhos.
mas não se iluda, pois
de verdade com sua frieza
me engole, fingindo acalentar-me.
sua parceria comigo,
parece desejar sempre o incerto,
quer extrair de mim a máxima dúvida,
não deixa que pise firme o solo sagrado,
esnoba de minha segurança,
sussurra em meus ouvidos,
muito sobre a minha timidez,
reforçando-a cada vez mais.
mas é tão astuta que nem causa dor mais,
pois como a picada do morcego,
que a vítima nem sente,
assim é a minha solidão,
está lá a sugar, a lamber a seiva,
mas oferece um anestésico potente,
que disfarça a enorme dor que causa,
que esconde a ferida aberta.
mas mesmo com este sangue que escorre,
das mordidas da solidão,
dos olhos enevoados,
da incerteza, da inconstância
e de tantas coisas mais,
ainda assim, por anos e anos a mais,
é a solidão que parece estar firme
e dá garantias,
que jamais irá me abandonar.
paulo jo santo
coisas da zillah