aos quarenta e cinco anos.
deveria ser normal, faz parte da natureza ter a possibilidade de chegar aos quarenta e cinco.
mas hoje, vejo o que representa o transcorrer desse tempo.
me recordo de flashes, lances que minha mente consegue trazer, de até mais ou menos meus dois anos de idade (pois quando morei na jovino de melo pelo que entendi das conversas com minha mãe, tinha essa idade), quando só existia eu e o adautinho.
adautinho, quanto tempo não uso esse jeito de chamar meu irmão. chamei-o assim por muitos anos a fio, parecia que sempre continuaria a chamá-lo desta forma.
acho que quando deixei de me referir assim a ele, neste dia, fiquei adulto.
nem percebi tal coisa, simplesmente um dia passei a chamá-lo adauto.
mas nessa madrugada, nos primeiros momentos de meus quarenta e cinco anos, voltei ao mesmo sentimento.
desfilam tantas imagens e presenças neste apartamento que estou: eu e os gatos. e percebo que estas nunca me abandonaram.
talvez isso realmente prove a existência do registro astral,
me remeta à existência de um livro da vida. e que ao partir daqui, não contando com este nosso tempo cronológico, a primeira coisa que farei será assistí-lo, talvez na velocidade de um relâmpago. mas não mais em flashes, mas de maneira contínua, numa fração de segundos, que é a velocidade do pensamento.
ou às vezes não, terei a sensação de ver estas imagens detalhadamente, com as devidas explicações e cruzamentos de fatos que deste ângulo que estou hoje, não consiga perceber.
anos atrás parecia que chegar a esta idade, viria com um pacote de comportamentos, que exigiria de mim ser um senhor. um senhor quarentão.
mas eu nasci exatamente num tempo de transição, nem me falaram. não me avisaram disto, talvez nem imaginassem na época que aquela época tinha esta característica.
hoje em dia não existe mais um código de postura para os quarentões, cinquentões, etc.
me é fascinante sentir esse momento, mas também me é desconfortável, pois não me sinto da forma que imaginei que seria.
na verdade me sinto melhor, pois não preciso usar da rigidez que a mim, esta idade parecia exigir. ou eu não sei ser uma pessoa quarentona. não compreendi direito ser formalmente adulto.
mas penso que não, simplesmente mudou, pois vejo que ao redor as pessoas não carregam tanto, a exigência de se mostrarem amadurecidas, capazes de lidar com todas as situações.
acho que é isso que sinto, tenho a liberdade de não ter soluções para todas as coisas.
na verdade aos quarenta e cinco anos, não tenho a exigência de saber tudo. aliás, tenho total consciência que não sei nada a respeito do que me cerca.
a única certeza que tenho, é que aprimorei no transcorrer do tempo, a minha capacidade de sentir.
tanto que nos primeiros momentos desta idade, no desfilar das coisas ao meu redor, consigo sentí-las de uma maneira melhor. e me sinto melhor e mais leve, por tabela.
talvez esteja conseguindo um sentimento semelhante ao que tinha desavisadamente na minha infância, de tatear tudo, para perceber o que de fato queria e o que me tornaria feliz.
paulo jo santo
zillah
(04/01/1970)