CÂNTICO DOS DEGRAUS IV
 
SALMO 123
 
Tradução e comentários: Dalva Agne Lynch
 
 
A Ti Elevo...
 
A Ti elevo meus olhos,
Ò Tu, que nos céus habitas!
Como estão os olhos dos servos
fitos na mão de seu senhor,
e os olhos das servas
na mão de sua senhora,
assim em Hashem, nosso D'us,
nossos olhos esperam,
até que Ele se compadeça de nós.
Tenha compaixão de nós,
Hashem,
tenha compaixão de nós,
pois estamos fartos do desprezo.
Nossa alma está de sobremodo farta
desse escárnio, típico dos voluntariosos,
desse desprezo, típico dos soberbos.
 
Este Salmo me vem como um bálsamo à alma, perante os ataques malévolos que sofre o mundo, por parte daqueles que se consideram donos da verdade, elite escolhida do Todo-Poderoso, únicos a entrar nos Céus.
 
Mas o Eterno não tem favoritos. Todos nós somos Seus. Não há quem fique "fora dos portões celestiais", a menos que assim queira. Então também eu, como Israel, elevo meus olhos aos Montes, e espero.
 
Este Salmo é um pedido de libertação contra o escárnio do opressor, o que, em hebraico, como já mencionei, chama-se "lamento".  Ele foi escrito quando Israel, com todas as suas enormes certezas de ser o Povo do Altíssimo, era pobre e desprezada, enquanto a Pérsia regia o mundo em luxo e riqueza, desprezando o simples povo de pastores, pescadores, sonhadores.
 
- “A Ti elevo meus olhos, ò Tu, que nos céus habitas!” – O salmista, Rei de Israel, eleva confiante os olhos Àquele que está infinitamente acima dos poderes deste mundo, apesar da arrogância dos seus opressores, e da sua aparente posição segura.
 
- “Como estão os olhos dos servos fitos na mão de seu senhor...” – Uma coisa que notei, primeiro ao morar no Oriente Médio por dois anos, depois, mais recentemente, observando a enorme população muçulmana de Londres, foi como as pessoas daquelas regiões se comunicam com seus empregados, ou com pessoas que consideram como inferiores. No início fiquei ofendida ao ser saudada com um aceno de cabeça, e despedida com um movimento de mãos. Apesar de não ter gostado muito de ser considerada “inferior”,  pelo menos compreendi que eles se utilizam mais de gestos do que de palavras.  Assim, a expressão "os olhos fitos nas mãos de seu senhor ou de sua senhora”, neste Salmo, ficou clara para mim: significa estar esperando por instruções de como agir, e denota que Israel não tomaria uma decisão de retaliação a não ser sob o comando de seu Poder Maior. Colocar-se-ia perante o Eterno, como o servo perante o seu senhor, com os olhos fixos em suas mãos, até receber Dele instruções  diretas de como agir.
 
 - "até que Ele se compadeça de nós" – Essa sentença implica que o Eterno permitiu que o adversário desprezasse e vilipendiasse Israel. E por que Ele faria  isso? Porque, ao contrário dos homens, antes de enaltecer um homem ou um povo, o Eterno os rebaixa, para que, ao serem depois engrandecidos, não cresçam em soberba e arrogância e se enfraqueçam com desprezo, pensando, "somos os Escolhidos, veja como Hashem nos ama mais do que os que nos rodeiam!" E essa é uma das razões pelas quais não se deve jamais criticar ou desprezar aqueles que passam por momentos de miséria e provação. Quem pode perceber os desígnios do Eterno? É possível que Ele os esteja preparando para algo maravilhoso!
 
 -“...desse escárnio, típico dos voluntariosos, desse desprezo, típico dos soberbos.” – Outra vez, traduzi diferentemente do que ficou conhecido pelas versões consagradas. A razão é que, no original hebraico, há aqui um artigo demonstrativo que significa "escárnio que pertence a", "desprezo que pertence a", e que foi totalmente ignorado pelos tradutores.
 
Apesar de ser um Lamento, este Salmo denota certeza de que Adonai combaterá o adversário, porque Ele nunca falhou antes - ainda que, de momento, não se possa ver nenhuma salvação à vista.
 
Que estejamos sempre dispostos a meditar, esperar e ponderar, antes de nos levantarmos em retaliação contra aqueles que nos desprezam. "Na quietude e na confiança estará tua força", diz o Talmude. A menos, é claro, que eles levantem a mão contra nós, e seu humilhante gesto de despedida ou saudação se transforme em violência.
 
Transliteração do Texto:
 
Shir hamaalot helêcha nassati et enai,
haioshvi bashamayim.
Hine cheenê avadim el iad adonehem,
keenê shifcha el iad guevirta,
ken enênu el Hashem Eloheinu
ad sheiechonênu.
Chonênu,Hashem,
chonênu,
ki rav savánu vuz.
Rabat saveá la nafshênu
halaag hashaananim,
habuz ligueê ionim.


 Link para os demais Cânticos;
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Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 16/11/2014
Reeditado em 20/09/2018
Código do texto: T5037015
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