Origami
A arte do origami serve como exemplo da concepção abordada por Deleuze em relação a dobra e o Barroco. Utilizando o papel como superfície espacial, detectamos esse corpo que se alastra rumo ao infinito, que é se faz através da repetição de limites, como um eco que se propagada, a ponto de alcançar distâncias inimagináveis à captação acústica que o ouvir proporciona. Seria como ver algo ecoar sem o limite da distância, ou melhor, atingindo metas que para quem fica, soam como desfeitas, mas que resistem e alcançam como novidade outras trajetórias.
Pensando nas articulações das dobras, podemos imaginar que seriam ecos de ecos, entrelaçando-se, no sentido do origami, a ponto de criar uma infinidade de possibilidades. As formas que podem assumir uma simples lauda, aqui são multiplicadas em infinidades, já que o plano de desenvolvimento está muito além e suas variáveis se inter-relacionam, criando novas fraturas, a ponto de poeirificar a produção de desdobramentos, fazendo com que a impressão seja de todo em alguns momentos e em outros de distinções que aparentemente seriam insolúveis.
Falta a percepção desse sentido único, mas sem imaginar esse todo como presunção orgânica de um topo que guia. Aqui a fragmentação se faz presente em uma dinâmica desfragmentária, onde o encaixe e desencaixe são simultâneos e não permitem brechas além das que a reorganização limita. Como se dentro de um cômodo, dispuséssemos dos objetos conforme nosso desejo de arrumação, sendo que a matéria deles fosse particionada a ponto de chegarmos a partículas indetectáveis a olho nu, onde cada molécula seria rearranjada. Criando a noção de interfaces a partir de dobras que se confrontam, em uma natureza morfológica, onde a superfície é o grande determinante por se fazer determinada em uma permuta criptográfica.
Quando observamos uma forma, um elefante por exemplo, damos um nome aquela estética da primeira impressão, fazendo com que, apesar de não se notar a princípio, busque-se esse desdobramento, que seria o Belo, tão procurado pelos filósofos. O Belo ou meta estética, seria esse desdobrar, como templos hindus repletos de flores de lótus se desabrochando na representação desse abrir e fechar ininterrupto, num ato contínuo de ecoar e escoar. A força de resistência que promove as curvas, pela potência, que represada, busca uma forma de romper o dique, causando inundações de ondas mínimas que possuem efeitos tsunâmicos, já que seu fluxo é gigantesco. Tudo pode ser reduzido a bolinha de papel diminuta que seria o ponto inicial do chamado Big Bang, como a expansão da folha que se abre na dinâmica que potência da resistência imprime.
Por fim, temos a abertura como morte, já que representa a não resistência, aquilo que segue em direção à próxima fissura, passiva em sua ação contínua, o tempo eterno, o espaço infinito, fazendo-se de próprio limite, como alfa e ômega, louco, por ser o desdobramento de qualquer razão, a grande fuga, o desejo de morte, a necessidade do caos, o acaso que tem como destino a previsibilidade do imprevisível, o choque inevitável dos corpos celestes que fazem a vida da morte nascer, no absurdo de cada gesto que se torna eterno no momento em que se faz acontecer.