Informação
Estamos diante de uma inundação de informações, porque não dizer, um tsunami, que parece levar tudo e todos com sua potência. Os fenômenos tecnológicos, como a expansão da internet, favorecem o acesso a essa enxurrada. Mas ao mesmo tempo, o contraste entre o fluxo de recepção e a responsabilidade ou mesmo uma singela noção a respeito delas, demonstra o quão próximo da tragédia estamos.
Basta pegar algum índice propagado, como o número de meninas grávidas, apesar de tudo que se divulga a respeito de métodos contraceptivos, assim como doenças sexualmente transmissíveis, bullying e tantos outros temas em voga. Cada vez mais, quantidades maiores de pessoas tem acesso ao que deve ser feito, entretanto, poucos o fazem. Mas a perspectiva aqui apresentada não se refere a essa forma de lidar com a coisa e sim da forma como a enxergamos.
A informação, em sua própria origem etimológica, remete a algo formatado, em forma. Quando lemos uma notícia, aquilo está longe de ser algo consolidado, embora muitas vezes levamos a sério essa perspectiva. No mínimo, devemos estar atentos a uma gama imensa de possibilidades que sugerem um assunto, fazendo com que procuremos mais formas ou informações, que possam criar uma espécie de quebra-cabeças e daí deduzirmos, não sobre o fato daquilo ser verídico ou não, mas a que interesses servem, no que se refere a construção. O processo de desconstrução exige não apenas estar diante do objeto, mas examiná-lo em busca de pistas que possam levar aos caminhos interrompidos.
Quando optamos por uma rota, abdicamos de todas as outras em um processo de contingência. Informar-se é colocar-se em formas, como se tivéssemos sendo formados, eis a grande cilada. Formar é estar condicionado a algo. Claro que em uma perspectiva da moral, por exemplo, estamos também formalizados. A questão não seria a de não deixar-se informar, já que faz parte do desenvolvimento social, mas sim, estar ciente do quão restritiva é essa condição.
Podemos voltar a Sócrates com o seu “só sei que nada sei”, onde a informação acumulada, apenas demonstra novos cárceres ou cavernas, pensando na analogia platônica, como uma necessidade incessante de nudez mental, ou quem sabe, deixar sempre uma possibilidade de invenção a partir de uma perspectiva de rascunho. É possível riscar, arranhar essas insinuações de informação, através das trilhas que lhes dão a forma.
Um profissional da área de informação, seja jornalista, professor, estará lidando com esses tênues limites, devendo ter cautela na lida com os distintos universos confrontados, inclusive aqueles que são trazidos pelos seus leitores ou alunos, o que Paulo Freire enxergou brilhantemente. Já que o considerado bem informado, não passa de um sujeito formatado, a ponto de estar enraizado em perspectivas que dão pouca mobilidade, em alguns casos, nenhuma mobilidade. As formas são muitas, mas como atores teatrais, deveremos saber utilizá-las como vestimentas descartáveis, na concepção de uma personagem para um determinado fim, com sobras de experiência que resistem ao fim da peça.
Tais perspectivas fazem com que possamos voltar aos dilemas apresentados no início do texto, onde podemos deduzir a falta de encaixe entre as formas, criando uma não relação evidenciada pela prática que destoa daquilo que foi alcançado por algum meio de transmissão. O diálogo precisa ir além da forma que taxa e imprime modelos e sim nos encaixes e desencaixes que criam esses abismos. Podendo concluir que a informação está longe de ser a alma do negócio, estando mais próxima de uma carcaça esquálida, que em alguns casos, serve muito bem ao apetite de grupos de abutres.