Brasileiro, profissão: Esperança.
Ruptura de época, preceitos, mandamentos, sentimentos. Antônio Maria, pouquíssimo conhecido, e com uma obra considerável e com um estilo de crônica inigualável( compositor, até), permanece mais que atual, ao lado de Rubem Braga e Paulo Mendes Campos.Vagando pelas ruas do Rio de Janeiro, no sumo do Belle Epoque, durante aquele emaranhado de finura e mudança cultural, da década de 50 e 60.na roda de amigos onde figurava celebridades como Oscar Niemeyer, todos jovens, sonhando com um Brasil que, na verdade, não aconteceu.
Particularmente, vejo que Antônio viveu como poucos, durante altas madrugadas , acompanhado do poeta Vinícius de Moraes, de espírito completamente boêmio, seguindo a matilha de cães vira latas pela orla da praia, sonhando, escrevendo em pequenos gestos um ardor de sentimento pleno, puro, genuíno, que não sentimos mais atualmente. Decerto, não uma atração de leitura para jovens, mas, quem sabe, o contato com os textos lúcidos (até humorados) de Antônio Maria possa despertar um novo ângulo, um gosto mais apurado. Até uma abertura para uma outra face, outro talento.
No entanto, reler Antônio é o mesmo que reler Graciliano Ramos, só que de uma outra forma. Em Graciliano, há a dosagem da nudez dos fatos, da estampa do homem de verdade, nas torpezas do dia a dia. Antônio Maria aparece para amainar, aquecer o espírito, fazer sonhar acordado. Este volume da Editora Paz e Terra, segue cada vez mais intacto. A meu ver, uma releitura que me traz novamente ao universo da crônica inteligente, dessa que agrada sem enfadar, que pinta e borda com o dia a dia, com pessoas normais, com as quais lidamos diariamente. E, um autor do quilate de Antônio, que produziu textos como “Notas da Chuva”,”Descrição” e “Considerações sobre o Sono”, merece uma vaga especial na nossa memória. É ler acompa
nhado de uma cerveja bem gelada
Brasileiro, profissão: Esperança.