In/Equação
Desde o ato da concepção, a biologia atua, com a genética moldando isso que posteriormente iremos chamar de sujeito. Desde os primeiros instantes uterinos, começamos a sofrer influência do meio em estamos inseridos. Impressões sonoras, as afetações decorrentes do corpo materno e da interação do mesmo com formas exteriores. Ao sairmos do útero, o exterior se apresenta. Cada instante, cada lugar, cada movimento, um emaranhado de sensações, sejam elas, auditivas, olfativas, gustativas, visuais. Realidades que esmagam o ser com suas percepções. Desde a voz dos pais, até o tapa do médico, porque não citarmos a luz solar e o primeiro tremor de frio. O corpo procura ir captando cada um destes sinais, com as devidas limitações que sua capacidade de perceber permite.
Tratamos também da geografia. Se você nasce no Japão ou no Equador, se vem de uma região fria ou quente, se sua língua é o espanhol ou o alemão. A questão exposta é que cada coisa, que é aquilo que não podemos definir, exerce uma influência sobre nós, não todas as coisas, mais uma parte delas, sendo que conseguimos perceber apenas uma pequena proporção das que realmente nos tocam. Uma multiplicidade de fatores que nos envolvem, como se fossemos uma expressão matemática em aberto. Se pensarmos nas possibilidades matemáticas relacionadas aos diversos fatores interacionais e na gama incompreensível onde se busca estabelecer um entendimento com as chamadas incógnitas, teremos um problema, ou seja, um sujeito, que estará em desenvolvimento durante uma vida.
Quando pensamos que tudo que nos influencia também poderia ser associado a chamada expressão matemática, imaginando que estão se desenvolvendo, cada um a sua forma, teremos uma infinidade de fatores. Levando essas suposições adiante, não seria descabido pensar, que teríamos no decorrer desse processo o surgimento de uma equação ou inequação. A polarização de um momento, poderia ser comparado a expressões em igualdade, conforme as regras de uma equação, o que envolveria todos esses conceitos de aproximação, como empatia, simpatia, felicidade, resolução, compreensão. Da mesma maneira, a inequação buscaria refletir aquilo que escapa, que talvez seja percebido pela compreensão da limitação e que favoreceria a fatores que somente conseguiríamos pressupor, estabelecendo elementos generalistas e abertos, já que sua percepção conclusiva estaria distante.
A lista de equações é grande: cúbica, diferencial, linear, exponencial etc. Mas a pergunta que fica seria, quantas mais ainda estão por vir? A busca pelos dois exemplos aqui contidos são restritas ao parco conhecimento de quem as escreve. O objetivo não é dizer que tudo está restrito a elas, como um generalismo absurdo, mas perceber a tentativa de compreender um desenvolvimento como consequência de múltiplos fatores que buscam uma resolução, eis o que é chamado vida, enquanto movimento calculado e aquilo que se torna um resultado, a morte, a consequência dessa gama de interações.
Entretanto, cabe perceber, que tais dinâmicas ocorrem antes mesmo desse fim maior que obscurece nosso entendimento momentâneo, já que as interações e resoluções ocorrem a todo instante. Não apenas quando estamos diante de alguém que morre, mas a cada célula, imaginando cada instante que se desfaz a cada piscar de olhos, dias que se desintegram quando dormimos e acordamos em uma outra realidade, o eu que é construído diariamente, já que deixa de ser constantemente e por isso precisa ser reforçado. As equações e inequações estão explodindo em nossa realidade, favorecendo a mínima compreensão ou a máxima aparente incoerência. Podemos dizer que um casamento bem sucedido seria uma equação, por ter encontrado suas equivalências, bem como uma carreira promissora ou quem sabe um beijo inesquecível. Da mesma maneira, as inequações são como quebras de moléculas, que gerarão outas combinações inimagináveis.
A resolução final se dá quando somos excluídos do processo. Não que a morte faça com que a matéria que sobra de nós deixe de interagir com o restante do que há. Mas a partir do momento em que morremos, o desligamento desse racional, faz com que não tenha mais sentido o cálculo, já que a matemática é humana e interessa aos vivos. De certa forma, todos os que morrem se tornam inequações, já que passam a pertencer a um campo incognitivo, ao mesmo tempo, pelo fator morte condicionar todos a esse estado único, podemos imaginar que ao morrermos, nos tornamos todos incognitivos, o que faz de nós mortos uma equação de morte. Para os vivos os mortos são uma inequação e para os mortos uma equação de nulidade.