olhos famintos.
seus olhos famintos
sedentos da gente
sedentos de tudo
percorre todo perímetro
estuda todo o ambiente
abarca tudo o que existe
em torno de si
olhos com a gana de tudo absorver
tudo digerir, gulosamente
sorver do mais vital de cada coisa
que alcançar, no seu olhar
olhos que sugam impiedosamente
o que há de mais essencial
aos que lhes circundam
nutrindo-se de uma angustiante
necessidade de concentrar tudo
somente para si
quer a experiência alheia
quer a característica do outro
aprisionando com estes olhos nefastos
minando a energia alheia
extraindo até o bagaço
ao lançar, seu golpe de olhar
como perspicaz predador
extrai o que pode de sua presa
extrai voluptuosamente
o que seu olhar disperta de desejos
os mais instintivos e básicos
numa fome animal
só há a como primissa
subsistir a tudo
e sobre tudo...
mesquinhez?
perpetuação?
olhos famintos
olhos que vagam
olhos que pairam
e não se mostram claramente
mas enevoados, pela própria natureza
peculiar que possuem,
insistem energicamente
em sua incansável e insaciável meta
de si nutrir
do que parecem acreditar
que de outra maneira
não conseguirão possuir.
paulo jo santo
santos/sp, saboó
zillah
07/06/2014 - 09h40