Amor

A discussão sobre o Amor, envolve, há séculos, argumentos que tentam elucidar esse devastador estado de sentir. Como não se encantar com "O banquete" do filósofo Platão? Aqui, proponho, mais uma tentativa de tratar a respeito dessa característica humana. Alguns a associam a outros animais. Talvez seja possível. Mas aqui, trataremos de nossa própria espécie. Ao contrário do que muitos preconizam, admito a possibilidade do amor ser uma alteridade. Costumam associar o amor, como sendo algo íntimo e que influencia o que esteja ao redor. Pensando assim, nós influenciaríamos o meio e tudo aquilo que entra em contato conosco. Claro que existe uma influência, já que fazemos parte de uma relação. Só que existem elementos, que nos influenciam antes. Imaginemos os sentidos. Quando sentimos um aroma, um gosto, enfim, algo que aguce os sentidos, significa que antes, fomos influenciados por algo que despertou estes estados. Eis a hipótese. O amor também nasce de uma influência, fazendo com que possamos sentir e denominar como amar, sendo que o conceito, foi criado a partir de algo desconhecido, que quando sentimos, passamos a dizer que conhecemos e denominamos, com intuito de controle.

Por mais que nossos ouvidos tentem acondicionar o som recebido, se ele continuar recebendo estímulos, chegaria uma hora que se tornaria uma balbúrdia. O amor é um sentimento que recebe estímulos diversos, a ponto de um enamorado, pode até deixar de fazer os procedimentos básicos, como se alimentar, por exemplo. São chamados apaixonados, os aficionados por algo que os faça sair de sua condição habitual. Não necessariamente uma pessoa. Podemos nos apaixonar por uma obra de arte, um animal de outra espécie, uma paisagem, ou seja, qualquer coisa que consiga tocar nossa sensibilidade. Se pensarmos na lenda grega acerca do amor, ou melhor, amores, já que existem diversas formas de amar, o que caracteriza a possibilidade de interação sentimental com tudo que há. A religião associa com deus, pelo fato desse ser supremo estar em tudo, por tudo ser sua criação. O amor seria a forma de comunicação, por ser o sentimento que consegue se comunicar com qualquer coisa que exista. Através desse meio, temos sentimentos e podemos assim, ter um contato mais sensível com qualquer coisa.

O estímulo vem de fora, como abordamos anteriormente. Isso faz com que um, diante de um por de sol, tenhamos aquela emoção que outros não conseguiriam compreender. A relação é íntima, no sentido de ser movida por uma série de estímulos que varia conforme do estado de cada um. Não se consegue amar da mesma forma. Mas todos conseguem amar. Mesmo os que se dizem movidos pelo ódio, não podemos deixar de perceber a mesma motivação, o amor. Na obra “O mundo como vontade e representação”, de Schopenhauer, o filósofo alemão articula o que chama de “vontade”, como uma força de motivação, até mesmo universal. Neste ponto rompemos com a teoria do filósofo, pois a tese aqui proposta coloca o amor como condicionante e a vontade sendo um efeito posterior. O que faz a vontade surgir, seria esse amor motivador, que instiga e move. Lembrando que ele só age dessa maneira, por conta de uma relação ocorrida com algo que a princípio, não damos conta. Algo no influencia a gostar de uma planta, por exemplo. O amor pela planta surge, sem que saibamos explicar o motivo do interesse por aquela natureza. Em seguida teremos a vontade em relação à planta, talvez de fotografar, acariciar, ou algo do tipo.

A imagem do Cupido, que apontava sua flecha e atirava, ilustra bem essa teoria. O dardo poderia ser arremessado em qualquer momento, contra qualquer coisa e no instante seguinte, estaríamos enamorados. Por isso, entre os deuses, era a força mais temida. Todos estão passivos do amor e tudo está passivo ao amor. A ideia de lançar algo, também remete ao que escapa do nosso entendimento. Podemos sentir amor por algo que nunca imaginaríamos e cometer loucuras em nome desse sentir. Daí a expressão que diz, “o amor é cego”. O sentimento entre pessoas é a continuidade disso. Claro, que envolve duas potências amorosas. Isso faz com que a relação se torne ainda mais intensa. O que não significa que dois irão se amar da mesma maneira e que não ocorra o conflito. Ainda mais no que se refere a amar e não ser amado. O ser humano, que se coloca na condição de “ser”, concebe o existir como a consciência do ato. A partir disso, a questão que envolve o amor é a de não apenas ter a sobriedade a respeito da possibilidade de amar, mas a ansiedade de também ser amado. Ao contrário de uma rocha, que provavelmente não demonstraria um afeto, conforme nossa noção de expressividade, somos carentes, necessitamos de também pertencermos ao amor.

Surge outro conflito. O amor, como algo que foge a nosso controle, pode nos colocar diante de algo que amamos. Mas sem que possamos perceber algo que venha a nos amar. Também podemos amar a ponto de acreditar que o amor estaria encerrado naquele único ponto de sentir. Tal ato, faz com que tenhamos a vontade de não deixarmos de ter este sentimento, criando relações de posse, onde privamos alguém de suas condições básicas, com intuito de aprisionar, não uma pessoa, mas como uma tentativa de conter nosso próprio desejo. Também é chamado de magia, o amor, por ter elementos místicos, já que não conseguimos saber sua origem e criamos especulações a respeito dela. A noção de alteridade aqui trabalhada, inspira-se na obra “O ser e o nada”, de Jean-Paul Sartre. Apesar de vir de fora, ela consegue nos invadir e até mesmo formar nossa personalidade. Sabendo da possibilidade de amar, concebemos a possibilidade em sermos amados, transformando-se em um ato reflexivo, onde podemos nos perceber pelo outro. A expressão amor-póprio seria um engano, já que o amor nasce de fora e o que causa em nós, seria uma impressão. A não ser, que baseado em nossa capacidade de sentir, dissermos que todo amor é próprio. Ainda assim, caminharíamos por novas indagações, que provavelmente não teriam uma resposta à altura, já que os chamados estímulos primitivos, por mais que tenhamos a vaga ideia de alguns deles, jamais daremos conta de todos e da forma como se relacionam conosco.

Mais um questionamento aqui abordado. A famosa expressão cristã, “amai o próximo como a ti mesmo”, não se aplica. Se percebermos, o amor, como algo que foge a nosso controle, e externo ao nosso querer, não poderemos condicioná-lo a algo específico. A frase estaria mais associada à lei, já que perante a justiça, devemos ter o mesmo apreço, julgar conforme desejamos ser julgados. Nem sempre o próximo será o amado. A questão não o que estar próximo e ter como referência a si, mas justamente perder essa ideia do ego, fazendo com que possa alastrar seu sentimento, captando além da\s motivações óbvias. Quando percebemos, que tudo é passivo de ser amado e nos predispomos a amar, o amor se tornará a diretriz e estaremos repletos de tudo que nos cerca. A união ocorrerá, não por fazer com que o sentimento seja comum ao seu querer, mas que seu querer esteja repleto do que é comum. Se imaginarmos cada célula, cada matéria, que estão aqui desde o início dos tempos, saberemos que o amor que sentimentos hoje por uma composição, que poderia resultar em uma pessoa, em épocas passadas, dispersas, serviram a rochas, outros animais etc.

Por fim, podemos voltar a dar a mão à máxima cristã, já que amar o próximo como a ti mesmo é verídico, à medida que o próximo é composto daquilo que somos ou fomos. O amor seria o reconhecimento dessa outra parte do mesmo contido naquilo que existe. Imaginem se somos unidos e dispersos, enquanto matéria, ao longo de milênios. Existem substâncias de cada um de nós, espalhadas em tudo que existe. A crença existe na identificação dessa “partícula”, criando por amor por uma empatia ou simpatia. Não é raro observar, quando sentimos algo de especial por alguém, dizermos o seguinte, “parece que te conheço há muito tempo”. A ligação esta refeita, mas longe de caras metades e coisas do tipo. É algo muito mais pueril. O que não deixa de ter intensidade. O amor é o grande sentimento de união, que depende de algo que foge da nossa ideia de conteúdo, já que extravasa as barreiras do ego e se relaciona além da compreensão. Não podendo equivaler também à chamada “coisa em si”, já que não teríamos forma de acessá-la, nem dedutivamente. Uma espécie de fenomenologia, que surge na mente a partir de manifestações que escapam a compreensão mental. Mas faz com que produza um estado que denominamos amor, que se portaria como a possibilidade de essência da criação. O amor seria a grande função, pois faz com que a matéria dispersa, se relacione e busque um sentido nas conexões variadas. Esse seria o que o filósofo Immanuel Kant denominou,”imperativo categórico”.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 30/01/2014
Código do texto: T4671032
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