Mais do Mesmo
A disfemia, conhecida como gagueira, apesar de ser apresentada, como uma espécie de dificuldade em expressar, sendo considerada patológica, acredito que seja também uma forma de compreendermos nossa forma de utilização da linguagem. No texto utilizamos o termo gagueira, por ser de uso mais comum. A palavra disfemia será utilizada para representar a doença e a gagueira como figuração ao exemplo expresso no texto. O gago é aquele que perante a norma, insiste em utilizar um aparato que massacra, por superabundar, a fonética. Sua repetição causa a exaustão daquele que capta as palavras, fazendo com muitas vezes o som produzido faça um sentido contrário ao de ser compreendido, criando uma vacuidade de sentido, apesar da grande produção sonora e que insiste em se prolongar para a tentativa exaustiva de se fazer entender. O gago utiliza nos intervalos as formas conseguidas e com isso dá pouca variação, ao ponto de não progredir diante de uma sílaba, por exemplo. Podem-se expressar a chamada gagueira através da onomatopéia, que irá dar uma noção do repetimos na recorrente sequência.
A introdução acima, serve para que possamos adentrar uma outra perspectiva, que seria a chamada redundância. O redundante seria um gago dentro da linguagem, com uma sofisticação, em falar do mesmo, se estendo nas sentenças. Consegue formar um texto, ou mesmo um diálogo, cansando os outros interlocutores. O redundante não pode se desviar dessa fuga do objetivismo, bem como o gago que se prende a uma fração. Na redundância, o sujeito busca se estender ao máximo, a ponto de se confundir e não mais se buscar um sentido, já que não avança, mantendo-se fixo em uma direção, por uma trava que o impede de trilhar outros caminhos. Suas sentenças se repetem, como um mantra enfadonho. O desespero de se fazer entender, como na gagueira, faz com que prolongue aquele não entendimento, criando um mar de divagações, onde os envolvidos se sentirão sempre à deriva.
O pleonasmo seria uma forma de buscar um outro caminho, mas ainda mantendo o insucesso. Nesse estágio, aquele que se serve da linguagem utiliza a obviedade para tentar atingir a objetividade, acabando por desenvolver repetições ainda mais grosseiras. Voltando ao termo utilizado, o gago, que ao não se expressar, usa uma veemência que não soluciona o problema a ser resolvido. Figuramos o pleonasmo nesse estágio, forçando convicções que seguem em desalinho com uma compreensão, já que força ao óbvio e dificulta uma transição. O pleonástico reforçará a sentença na busca por ser compreendido, pouco articulando formas, a ponto de causar uma impressão perturbadora em quem se depara com essa resistência.
Por fim, citemos a tautologia, que seria a forma mais sofisticada de gagueira. Nela o sujeito se serve de um aparto mais amplo de expressividade. Consegue utilizar um arcabouço gramatical maior, quase induzindo quem o escuta a acreditar em um sentido, por isso se torna a forma mais ilusória de gagueira. Enquanto na disfemia, a pessoa que esta diante de quem fala, não consegue compreender, na gagueira aqui descrita, a tautológica, quem escuta pode acreditar ter entendido e compartilha daquela incompreensão ao ser iludido pelo jogo de palavras próximas, apesar de terem formas variadas. Fala-se sobre muita coisa, mas todas se voltam sempre ao mesmo assunto, não existindo a chamada inflexão e mantendo-se preso no ciclo vicioso. Agora a gagueira assume a função de tornar outros gagos, fazendo-os cúmplices nesse processo de alienação. Ambos não buscam uma solução, ou antes, resolvem-se na primeira solução encontrada e não mais transposta. A disfemia possui tratamento e a gagueira também, a primeira mais aparente e a segunda mais intransigente.