Ícone, Signo e Símbolo
Quando tratamos a respeito de ícones, símbolos e signos, temos diversas referências que se embrenharam nesse cenário, na tentativa de tentar elucidar, ou muitas vezes, tornar ainda mais misteriosos esses personagens. Aqui tratarei de uma forma simplória de identificar tais conceitos, pensando em determinados fatores de influência que lhes são peculiares. Muitas vezes sobre um mesmo aspecto podem trazer perspectivas bem mais aprofundadas, quando se consegue ter alguma noção do novelo, em toda a complexidade de sua trama.
A princípio, tratemos do ícone. Tal figura, representa esse estado sagrado daquilo que é absorvido de imediato e na não compreensão, a imaginação cria uma conexão com um possível além. Tantos ícones foram montados ao longo de antigas culturas, que improvisavam diante da natureza e de um mundo que iria sendo descoberto. Estar descoberto favorecia o abrir-se, fazendo com que tais aventureiros sentissem a opressão do desconhecido e temessem sua extinção. Os ícones ajudaram na subserviência diante do desconhecido, embora tenha sido de forma maliciosa, já que o objetivo era agradar para que possa dominar. Eis a magia, em sua forma mais simples. A domesticação da natureza, onde o magister serve-se de rituais com intuito de domar ou burlar as forças que estão além de sua compreensão. O ícone responde a essa primeira necessidade do homem, de ultrapassar o limite do óbvio e avançar diante de um mundo que por ora não lhe pertence.
Quando adentramos a realidade do signo, estamos diante de algo bem mais sofisticado. Agora o objetivo não é apenas a passividade diante do desconhecido, mas a tentativa de capturá-lo, dando-lhe um significado. Os signo é a magia em ação, tentando captar a impressão e fazendo dela sua fonte de informação a respeito do apreendido. Informar-se é conhecer e isso envolve uma relação de poder sobre o conhecido. O domínio do significado torna o homem um sujeito capaz de interpretar o mundo, desvendando mistérios, através de um entendimento que a princípio, parece ser apenas dele. Eis um dos grandes estratagemas descarteanos, já que molda o mundo a partir de um entendimento, fazendo com uma lógica impere e busquemos um sentido. Não é que um divino nos atribuiu esse valor universal, mas nós que atribuímos a ele, como bem observou Nietzsche. A própria ciência busca essa razão como fonte suprema, como obrigação mundana, fazendo do homem um incessante produtor de significados. Agora surge também essa mecanização, que faz do sujeito um instrumento que deve buscar ter o ritmo de uma indústria, alimentando sua mente com a voracidade, inicialmente de grandes caldeiras e posteriormente ao nível de poderosas turbinas.
E por fim, chegamos ao símbolo. Os símbolos expressam o valor da apreensão, se tornando a marca, a forma de demonstrar o processo. È a prova que o homem precisa diante de toda sua elaboração de captação desse não compreensível. Primeiro ele eleva, depois traz para significando e no fim, manipula simbolizando. O símbolo é a forma mais concreta, onde se pode manusear a coisa, fazendo dela um mero objeto. Reduz-se para que se possa aplicar e obter resultados. Fazendo com que se torne o grande demiurgo. Aquele que busca, apreende e altera. Cria campos de interação que favoreçam sua dinâmica, que se baseia em uma logicidade disso que pressupõe como sendo o real. O problema é que a chamada realidade, desde o início se baseou em uma impressão, que o próprio Nietzsche considera como sendo falsa, devido aos embustes causados pelos nossos parcos sentidos. Assim, criamos toda uma lógica da invenção, que tenta fazer do mundo o nosso mundo, tornando as coisas aceitáveis para uma existência não compreendida e muito menos satisfeita. O homem se encerra no símbolo, para que possa reproduzir sua arte de inventar, na tentativa de refletir diante do mundo e tentar fazer com que crie alguma impressão, quem sabe também se fazendo ícone para as coisas que o cercam e o devoram a cada instante.