Sobre a Simetria

Essa opressão retilínea, que estremece por não possuir nem uma marca de estremecimento. Parece confeccionada por artista de mãos firmes, como é a estética dessa sustentação imaculada. Ainda que possamos identificar essas pequenas imperfeições, que não saltam aos olhos de um leigo. A procura desesperada para encontrar nessa composição, aquilo que é possível identificar como próximo a nós. A angústia está na aflição dessa aparente perfeição. O barroco já identificara o poder de um impressionismo a partir da matéria, que oprime o homem diante da magnitude dessas criações. Mesmo trabalhadas por mãos simplórias, disfarçam o grosseiro com sua calma de transformações.

Um impacto que mantém-se sólido, afrontando os que buscam o mínimo de oscilação. O artesão parece alcançar esse determinismo, quase fomentando esse desejo de estrutura, com uma força esmagadora, a ponto de minimizar os que se aproximam de sua criação. A própria sombra, muitas vezes é renegada, ainda que consiga, de forma inversa, seguir a retidão em sua projeção. O ideal de uma perfeição, que não permite a nada que escape a seu controle entediante. Eis o surgimento da necessidade de uma criação perfeita, com um imperativo denominado “deus”, que paira sobre o que há, como os alicerces incorruptíveis, retos. O homem se sente afastado, pequeno, ínfimo, diante deste ser que é a concretização dessa angústia diante daquilo que é aparentemente imutável, sólido, linear.

Nós, com todas as nossas modificações, sofrendo transformações fisiológicas, ficamos pasmos, com essa criação que parece manter-se firme diante das adversidades. O desespero invade o ser, que cria sua própria destruição, a partir do momento que deseja não mais se entregar a corrupção, que é uma constante da natureza na qual faz parte. Insuportável fardo de saber-se possível de adulteração e extinção. Como existe essa necessidade de se fazer além do mundo, buscando formas que possam de alguma maneira, representar essa perpetuidade. A estagnação, que formaliza o sujeito reto, com aquela necessidade vertical, em chegar a um topo e manter-se ali, como se o infinito fosse uma paralisia.

Se focássemos nos menores detalhes, ainda que não sejam olhos de perícia, poderíamos perceber o quão sinuosas são as aparentes simetrias, percebendo o engodo, que deixa a visão estontear diante dessa catástrofe do sedentarismo. Uma ficção, que aliena aquele que se projeta a partir de uma falsa perspectiva, tornando-se refém dessa morte da percepção. Fixos, ao ponto da referência nos desreferenciar, em um fetichismo bruto. Um pilar que perfura feito uma lança, qualquer possibilidade de abstração, por ser um abstrato absoluto. Uma caverna sem possibilidade de fuga, que eleva o rebaixamento diante de um fim. Findamos nesse abismo que é visto ao contrário, suspendendo nossa condição mundana, para que possamos sucumbir nesse limbo de estátuas. A simetria mata qualquer forma de metamorfose, por encerrar a condição dos que buscam suas formas castradoras, é uma prisão, que engessa cada movimento, tornando cativas as liberdades e fazendo da vida, uma morte por conseqüência.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 03/05/2013
Código do texto: T4272763
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