A CULTURA LÍQUIDA
Vivemos, hoje, uma situação jamais pensada: acesso ilimitado à informação, conhecimento por toda parte e em fração de segundos. A internet foi, é e continuará a ser a grande revolução. Entretanto, há cada vez menos leitores. Há cada vez menos leituras. Entendam leitores como aqueles que leem, compreendem e aprofundam o material lido. Exercício contínuo. Provocação e reflexão. Entendam leituras como todo material que possibilita transformação, crescimento e, outra vez mais, reflexão. Trabalho. Trabalho. Muito trabalho pela frente. Nada é fácil e nada acontece por acaso. Isso não é um clichê, mas uma constatação.
Vivemos, hoje, o grande paradoxo humano: informação demasiada e falta de atitude. Jovens no mundo inteiro dialogam pelos sites de relacionamento. Entretanto, não aprofundam o olhar, não param e leem, não pensam! O que se vê na grande rede? Vídeos patéticos, música absurdas, textos confusos e imagens e mais imagens. Há muita informação boa a ser pesquisada. Mas Machado, Borges, Pessoa e tantos outros grandes nomes são apenas imagens no site de busca. Nada mais.
Vivemos, hoje, um mundo de pseudo isso e pseudo aquilo. Ninguém se aprofunda em mais nada. Tudo é superficial. Tudo é líquido. Contudo, esse líquido não é água. Água é vida e renovação. O líquido em questão é uma mistura da cultura pop: refrigerante, chiclete, analgésico, anabolizante, solvente, baba, vômito e o que mais vier. Viva a cultura imbecil! Não há necessidade de referências. Os melhores não são mais necessariamente os melhores. Os melhores são palavras e imagens em uma lista. Só isso. Agora o que importa é fazer e aparecer. Não há maturação da obra. Não há obra. Há um autor, os autores, os pintores, os artistas e um sem número de doutores.
Vivemos, hoje, uma antropofagia confusa: tudo se deglute, mas nada se aproveita. É retalho do retalho, do retalho, do retalho ao infinito. Tudo está resumido aos computadores, telas e cores. Não há mais abraço e tampouco aperto de mão. Não há sorrisos nem paixão. Tudo é muito veloz, frio e sem tesão. Textos fantasmas e vampiros com coração. Diplomas comprados, estudo pouco e muita gratificação. O errado é o certo e o certo uma burra tradição.
Vivemos, hoje, a falta do não.