Relação Consigo e Contigo

Descubro a sexualidade, explorando o corpo, tocando nas regiões erógenas que os hormônios excitam. O gesto de manobrar a genitália, fazendo dela um apêndice para exacerbação da libido. Visualizando imagens, deixando o pensamento fluir, construindo figuras de uma estética que estimula. O gesto maquinal de mover peles, provocar sensações delirantes, que são propícias para motivar o acasalamento. Quase um desintegrar-se até o ápice, chamado orgasmo, onde diluímos de uma forma gostosa, um gozo pleno. A vontade é recolher o sêmen e recomeçar, com os testículos intumescidos. Só de sentir os pelos pubianos já existe um comichão. Tão velada a sexualidade, o proibido que todos desejam, por isso creio que a divindade se existisse, seria mais sexualizada, já que forneceu a nós o aparato para explorar os prazeres em carne e posteriormente, quem sabe, o gozo de um espírito.

Aquele momento, consigo, escondido. Não pertence a ninguém o ato masturbatório. Nos fazemos de atores, criando cenas, buscando personagens, toda forma de compor nosso psicodrama libidinoso. Só de observar algo picante, molhamos as calças. Mas não é uma urina que vá envergonhar, mas um prazer orgulhoso de se melar. Podemos sentir por qualquer coisa, sem revelar, disfarçando o volume na calça, roçando o membro entre lençóis ao adormecer, fazendo da cama uma amante passiva. Objetos sem sexo, o gênero dos nomes é pura nomenclatura ignorada. Ama-se um travesseiro, uma colcha, um colchão, uma cadeira. Sabemos que as mulheres sabem respeito disso, explorando orifícios com cabos de escovas e outras protuberâncias mais discretas. Quão bom é quando também nos permitimos, fazendo de nosso ânus, mais que o um excretor.

Temos então um parceiro. Encaixamos em carnes, sentimos mais do que aquelas sensações unilaterais. Apesar de ainda pensarmos e invertamos, agora é transmitido a nós um sentir alheio ao nosso, que muitas vezes competem e agem contra nosso interesse de gozo. A relação que envolve outro ser, complexo como nós, é mais engenhosa, o que gera muitas vezes uma maior aflição. Não basta apenas se satisfazer, existe uma expectativa que desconhecemos, mas que temos a intenção de suprir. Por mais que se fale, o corpo reage, algumas vezes se recusa a participar. Sozinhos, por mais que precisemos de uma referência estética alheia que estimule, ainda existe um autoritarismo da vontade do desejo. Envolvendo mais de um, estamos diante do impasse, daquelas necessidades conflitivas que tentam se anular em proveito de um bem estar mútuo.

Procriar foi proclamado como um fim. Mas em uma sociedade em que a procriação deixa de ser o valor supremo, tanto por existirem métodos de fertilização laboratoriais, quanto pela urgência da diminuição demográfica, surgem outros valores. A satisfação é um valor imediato, ou pelo menos, o desejo de estar satisfeito, que faz com que se reproduzam os atos de corpos para o alívio momentâneo. Surgem novas angústias, que precisam ser atendidas por novos alívios. Satisfaço você para satisfazer a minha necessidade de lhe proporcionar satisfação. Não sou apenas o que gozo, mas o que faz gozar. Criador gozado, criatura gozante. A sexualidade também atende a uma moral sexualizante, fazendo com que hoje, ocorra essa necessidade de satisfação própria, levando em consideração a participação do outro como também singularidade autônoma, fazendo com que, por consequência, também promova a satisfação alheia.

Questão de gênero tem sido relegadas a um plano de menor valor, já que o desejo extrapola as limitações anatômicas. Nos satisfazemos no encaixe entre genitálias distintas, quanto na falta de encaixe ou explorando outros orifícios, respondendo a estímulos auditivos, visuais, sonoros, olfativos, virtuais. Homens que gozam seu orgasmo mais imediato, outros contrariando a lógica, assim como mulheres que inundam ou contém o fluxo em ejaculações a curto prazo. O que dizer dos andróginos, como se intitular resolvesse a questão do desejo, que invade outras espécies, com relações zoomórficas, além da ignorância de barreiras etárias. Não existe um modo, mais sim, modos. Descobrimos o prazer e vamos em busca dele, erotizando por conta do fetichismo que uma sociedade castradora cria, fornecendo mecanismos que favorecem ao enclausuramento daqueles que, como animais encoleirados, estão em busca daquela liberdade oferecida até o portão, movendo-se dentro de um quintal que o aliena e faz com que late para sua própria imagem.

A força da libido é descontrolada. Por isso ela é devastadora, quanto se tenta contê-la. Temos uma sociedade do gozo, mas sem orgasmo. Daí a necessidade de busca constante, já que nunca está satisfeito. Não que se deva sentir a satisfação plena, mas a excitação forçada por uma fragmentação, faz com que a repetição busque esse infinito que a quantidade promove pela vontade de multiplicação. Deduz-se dois vezes dois, se tornarão consequentemente quatro, mas esquece-se de que estamos fadados a apenas uma multiplicação, a do um vezes um, obtendo o mesmo resultado. Para sair do ciclo vicioso, somente abandonando essa degeneração erotizante, buscando o Eros primordial, aquela verdadeira Vontade, a ars erótica em vez do sexo restrito ao genitalismo. Façamos do corpo, um instrumento do prazer e de nós, artistas da libido.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 21/08/2012
Código do texto: T3841341
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