Identidade

Um conceito tão discutido, que gerou diversas correntes teóricas, com intuito de criar posicionamentos acerca dessa denominação, que fora tão explorada em diversos seguimentos sociais e ainda é, quando pensamos em termos de estudos sócio-culturais. Este ensaio busca apresentar outra perspectiva sobre o tema, deixando que os interessados, desejando mais informações referentes ao conceito de identidade e o posicionamento acerca das mesmas, busquem referências nas já consagradas teses, artigos e ensaios que circulam no meio literário.

Quando se fala em identidade, a princípio, pensa-se em nomear algo, dizer a que se refere. Dar nome, se faz um gesto mais de satisfação social, do que propriamente uma auto-afirmação. O nome é aquilo a partir do qual seremos conhecidos, como seremos chamados por outros, inclusive por nós mesmos, quando nos fazemos de outro ao tratarmos de nós mesmos. O que convém dizer que a nomenclatura inicial é algo exterior, que implica uma influência de caráter subjetivo. Dizer-se sendo isso ou aquilo, faz com que sejamos projetados para os que apreendem esses signos de identificação. Tal simbologia que determina os lugares que cada ocupa na esfera social, que tende em geral, a pasteurizar singularidades.

Para nos distinguirmos, precisamos criar um elemento externo a nós, que seja diferente em relação aos outros, ao mesmo tempo, todos se padronizam no ato de se diferenciar. A criação dos signos é o ponto comum, eis o caráter social, que fornece um falso sentido de subjetivismo, ao promover um discurso que a identidade faz do sujeito singular. Tal singularidade é fabricada em um meio que precisa catalogar para poder administrar, o que é uma opressão ao singular. A forma dada para que possamos nos desvencilhar dessa massificação é nos condicionar uma ferramenta massificadora, que encobre o sujeito, assujeitando-o a um símbolo, perdido em meio a tantos outros dados criados.

Desde os primórdios da taxinomia, a saber, Aristóteles e todo seu trabalho de organização. Observamos que classificar é uma função com intuito de atender uma necessidade daquele que classifica, que visa apreender o classificado, que lhe é desconhecido, mas passa a ser do seu conhecimento, a medida que é inteligível simbolicamente. Na impossibilidade de apreensão daquilo que desejamos, criamos um meio para alcançar a fonte do desejo, uma falsificação do desejado, que é possível fazer parte do imaginário que só consegue compreender o mundo a partir dessa pré-condição racionalizante. A maldita herança desse ser pensante, que tem sua capacidade de raciocínio, como qualquer outra função animal, com a diferença da exaltação que dispensa a este fator. Nietzsche enxergara o engodo. Somos como uma abelha, que enxergasse o mundo sob uma perspectiva de fazer mel, como o grande sentido da vida, aquilo que há de mais importante e superior a todas as espécies, justamente por ser uma característica sua.

No Brasil, temos a codificação do cidadão, que ao documentar-se é transformado em número. Talvez os pitagóricos até admirassem tal prática. Já não saberia precisar se seria tão exaltada, por sobreviventes ao holocausto, que sofreram a impressão em si, de uma numeração aterrorizante. Os dados estatísticos, que nos deparamos diariamente no mundo jornalístico e quiçá científico, expressam essa desreferenciação, onde enxergamos dados, que não nos comovem. Saber que milhares morrem em acidentes automobilísticos, apenas causa expressões do tipo “que coisa”, já uma vítima de algo dessa gravidade, promove uma conscientização e ação bem além.

Identificar é tornar idêntico, eis a gravidade de tal conceitualização. Mas a qual idêntico nos referimos, já que pressupomos todos os outros “civilizados”, sendo identificados da mesma forma? A resposta é simples, somos idênticos a nós mesmos. O objetivo de identificar, é fazer com que possamos dizer que a identidade, é o que somos e com isso perder nosso caráter mais íntimo. Assim, se criou a idéia de indivíduo, o sujeito romântico que diz ser à parte e que valoriza os valores do homem e do cidadão. Dizer-se sujeito, indivíduo, não é menos opressor do que quando nem havíamos criado esse tipo de personalidade. Nietzsche já havia enxergado a farsa, Foucault reforçara o argumento. Eis uma prática exercida pela argumentação dita liberal, em que o Estado não interfere ou interfere o mínimo nas individualidades. Só que as individualidades são criadas. É como se tivéssemos a liberdade dentro da prisão, respeitando os limites das celas, vestindo os uniformes, seguindo as normas dos diretores e funcionários do cárcere.

Enquanto sistemas socialista, tendem a dissolver o dito individualismo em meio a uma massificação que busca uma padronização. Sistemas liberais ou capitalistas, criam identidades individualistas, o que são falsas liberdades, para apaziguar os ânimos. Não existe diferenciação na função de ambos os sistemas, o que modifica são as formas de agregar. O Capitalismo, pós Guerra Fria, parece ter se solidificado, embora seja um misto com o Socialismo. Pessoas correm de um para o outro, o que faz pensar no ditado “se correr o bicho pega e se ficar o bicho come”. Faz-se necessárias novas alternativas, pois as duas vias se demonstraram um fracasso, não para os que se aproveitaram delas, é claro. A fé hoje se baseia nesse individualismo de consumo, distinguido da rigidez de classes movidas por ideologias ortodoxas, conforme muitos marxistas pensaram em dado momento. Seguem padrões de organização mais weberianos, no que se refere a tais falsas projeções subjetivas.

Por fim, o caráter ditado pela moda, que sempre cria padrões de identidade, não deixando segmentar um dos fictícios modelos. Cada vez mais, temos a necessidade de uma moda passageira, relâmpago. Pois ansiamos pela mudança, e o embuste se torna mais frágil, a medida que se carece de um imediatismo para suplantar modelos forjados. Não apenas nos tornamos modelos criados, mas consumimos essas criações, fazendo com que cada vez mais, precisemos desse alimento que nunca preencherá nossas reais necessidades alimentícias. Eis a nossa grande doença. Somos abastecidos por nada, esfomeados feito aqueles embebidos por uma fé, que definham em nome dessa metafísica. Continuamos tendo como referência algo fora de nós, longe de sentido, o que não nos torna tão distintos do que chamaram por algum tempo de “Idade das Trevas”. Só que agora o mundo da fantasia se tornou mais palpável no exagero que a tecnologia promove, o barroco ajudou a trazer o Céu até nós, e agora, vivemos nosso Inferno.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 28/07/2012
Código do texto: T3801449
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