Andrômeda e o Drama Feminino

Na mitologia grega, temos o mito de Narciso, aquele que enfeitiçado pela própria beleza, refletida pelas águas do mar, acaba se afogando em busca desse eu-reflexivo. Cotidianamente, observamos mulheres – mas não necessariamente apenas elas – contemplando a própria imagem, diante de espelhos. A busca sôfrega pelos reflexos, fazendo com que possuam diversos em uma única residência. Nas ruas, as buscas por qualquer aparato que atenda a ânsia pelo reflexo, desde vidros, até superfícies metálicas e outras ferramentas.

Ao contrário de Narciso, que enxergava a perfeição em cada traço, asmulheres buscam o que foge ao seu ideal estético. A ideia sempre se faz distante do real, impossibilitando a junção de ambos, o que promove uma frustração que nunca será sanada. Faz-se uma perseguição por aquelas águas que afogam nos detalhes que a visão impõe. Sofrendo as penas, feito uma Andrômeda, que se martiriza em busca de uma salvação, que nesse caso, nunca virá. Com o desejo de que apareça um Perseu que lhe salve.

O ideal de Perseu, se faz através do outro que elogia, tentando assim resgatar a auto-estima que insiste em menosprezar. O martírio é o espelho, ainda assim, é buscado constantemente, feito um sacrífico ao Belo. Narciso morrera de uma vez, as mulheres vivem matando-se lentamente, pela angústia de um modelo irreal, somado ao desespero vivido. Ambos os modelos buscam o reflexo como fonte de inspiração, sendo que o narcísico é de exaltação, o aqui chamado de Andrômeda, manifesta-se como expiação.

A mulher se faz de Rainha Má, que se faz bruxa, enquanto o espelho lhe mostrar a Branca de Neve, que é sempre o modelo que foge ao seu desejo estético, a ponto de envenenar-se com o fruto da sua própria desgraça. Olhos que perscrutam aquela sombra vítrea, que devolve o olhar, fazendo com seja invadida pla sensação de desconforto.

Na falta de espelhos, faz com que sofra da síndrome vampiresca do não-reflexo. Pois como as fábulas vampirescas, se desespera por não contemplar a imagem de si, sendo apenas vista pelo olhar do outro, aquele que não pode lhe fornecer a sombra vítrea da própria estética, no máximo uma perspectiva a partir da estética alheia, que é sempre difusa e concebida distante.

Assim, os espelhos continuam reforçados, por sua maneira de produzir perspectivas sigularizadas, fomentando síndromes que se espalham pelas ondas estéticas que são produzidas socialmente. Os mitos continuam sendo alimentados, com intuito de sempre distanciar o sujeito de sua natureza, favorecendo simulacros que se desfazem, seja perante um quebrar de espelhos ou mesmo um embaçar de vidros.