Discurso de Afirmação
Cotidianamente, nos deparamos comdiscursos de afirmação. O aqui mencionado seria aquele discurso, que tem a necessidade de ser repetido constantemente. Quantas vezes, não ouvimos alguém proferir algo a curtos intervalos, sendo que atribuímos a eterminadas pessoas, essas características repetitivas?
O sujeito que diz nunca se arrepender deter feito algo na vida, está falando para si essas palavras dirigidas a outros ouvintes, provavelmente tendo muito com que se arrepender. Aquele que diz nunca mentir, está executando uma mentira embutida nessa frase. Bem como o que nunca prejudicou ninguém e tantos outros. A necessidade de auto-afirmação é um forte indício de insegurança, já que a prática de algo, nos faz nem mesmo comentá-la, por já se tornar habitual, a ponto de passar despercebida.
Quem sempre fala a verdade, é percebido pelos que costumam mentir, os atos demonstram o caráter diferencial. Já o que diz não mentir, precisa primeiramente convencer a si. Mesmo em questões de cunho religioso, temos aquele fanatismo, a repetição constante dos dogmas, como exercício dos que não conseguiram agir naturalmente, necessitando dessa disciplina. Os ensinamentos se tornam um hábito em dado momento, temos diversos exemplos históricos, mesmo sem nunca ter passado por aquele processo de aprendizagem mais rígido. Não se trata de um platonismo em que isso já seja algo inato, como as ideias já incutidas no ser.
Outra característica marcante a ser ressaltada, é que não se trata de um fenômeno de “má fé”, dentro da percepção sartreana. Pois aquele que repete o discurso, está ciente do engodo, mas tenta convencer os outros, para criar uma espécie de redoma que não deixe que percebam o quão frágil é sua afirmação. Ele em momento algum é convencido acerca do que divulga, daí a necessidade de prolongar a propaganda, precisa estar sempre renovando o seu marketing, para que os outros se habituem com aquela gama de informações, que sem a oratória, se fariam inexistentes.
A fala é um ato que se utiliza do discurso, para obscurecer outros atos reveladores da personalidade de cada um. Falar em demasia é não deixar os outros se expressarem, impor sua condição de falante. Por isso, professores falam, com uma verborragia nauseante, para o aluno não se impor, não contrapor seu discurso desconexo com a realidade dos estudantes. Ao mesmo tempo, a fala permite que se observe inclusive sua falsidade, seja por excessos ou comedimentos.
Assim, o famoso ditado, “não faça o que faço, mas faça o que falo”, parece adequado, quando pensamos no mesmo em forma de um jogo de convencimento. Já na prática das virtudes, torna-se inadequado, já que o falar é um não-fazer. Fiquemos com a afirmação de Montaigne, em que o prêmio para um homem virtuoso é a própria virtude, o que exclui a necessidade de divulgação e reconhecimento alheio, pois o ato sentido já fala por si.