A Espera
A espera é algo que angustia cada um de nós e aqui desejo expor considerações acerca do motivo dessa angústia. Já que somos escravos de um tempo criado com intuito de ordenar e dizer quando isso ocorre e quando aquilo cessa. Seres temporalizados, dentro de uma expectativa finita. Eis o prólogo dessa discussão.
Primeiramente, quando esperamos algo, determinamos uma meta. Focamos no desejo a ponto de fazer dele a nossa referência, transformando todo o resto em mecanismo para atingi-lo. Daí a perda de interesse por todo o resto, já que temos apenas um objetivo e esse ainda se faz inalcançável. Esperar é se colocar a disposição de algo não realizado, é quando o futuro se faz presente em um estado de ansiedade.
Outro fator interessante de esperar é justamente sua condição incógnita. O devir é incerto, ainda assim apostamos em sua concretude. Seria como jogar pressupondo a vitória, o que aumentaria a euforia por toda a expectativa concentrada. Ainda que manifestada de forma longínqua, a espera conta com a fé, ou seja, a convicção de que o improvável irá se realizar.
Quando estamos em modo de espera, os dias que passam até o instante almejado, são como sombras. Passam por nós fugidios, sem muita expressividade, tornando-se até mesmo enfadonhos, pois a graça do colorido foi direcionada a um único ponto, ignorando todo o movimento caleidoscópico rotineiro. Nos fazemos sombra em meio as trevas que criamos, nos apagando de tudo para emergir somente no auge do que foi delimitado. Passamos com intuito de nos fazermos passado o mais breve possível.
Por fim, a grande ironia. O desejo de atingir a meta, faz com que ignoremos todos os dias e tudo aquilo que envolve o que antecede. Mergulhamos na busca e desprezamos o imediato que nos afronta a todo momento. Se pudéssemos, até anteciparíamos o relógio, sem nos darmos conta de que apressar o tempo é se aproximar da morte. Nascemos todos com a certeza de morrer, a vida passa, ou melhor, nós passamos por ela. Passar rápido é logo chegar ao fim.
Portanto, a angústia da espera está na antecipação da morte. Todo aquele que se projeta, aliena-se do que vivencia e finda-se sem se dar conta. Muitos são os que não vivem, mas passam pela vida, justamente por não se darem conta do processo, mergulhados em qualquer forma de futurismo, ansiosos depressivos que acabam em leitos de enfermarias, mais uma vez desejando que o tempo passe, mas agora ansiando pela eminência da morte.