Um Jesus suficiente para todos
Contrariando a cultura moderna de valorização do “ter” em detrimento do “ser”, Jesus nos ensina a observar e a interagir com o arranjo social de uma forma bem diferente.
Enquanto é comum ver que se dá honra a ricos e poderosos, autoridades, pessoas com títulos ou que ocupam posições sociais tidas como “mais importantes”, leia-se aqui políticos, advogados, padres, pastores e afins, Cristo nos indica que o alvo é outro.
Passando pelas narrativas neotestamentárias dos atos e palavras do mestre, vemos que no conhecido sermão do monte Jesus nos fala que felizes ou bem aventurados são os pobres de coração, mansos, os que choram, que tem fome e sede de justiça, misericordiosos, de coração puro, pacifistas, perseguidos e insultados, enfim, parece mais uma lista de perdedores ou
“otários” no conceito moderno, em suma, de pessoas não dignas de receber atenção ou honra, de qualquer tipo, inclusive de bênçãos espirituais.
No entanto, não raro, nos deparamos muitas vezes com ações que contrariam esse ensinamento, até mesmo entre os que alegam serem seguidores de Cristo. Assim como entre aqueles que não têm por princípio o respeito ao próximo, podemos ver ao nosso lado, no trabalho ou em nossa vizinhança pessoas que utilizam o título de cristão, mas não agem em consonância com as implicações do mesmo, valorizando os “importantes” e deixando de lado aqueles a quem Cristo prometeu muitas bênçãos.
É preciso quebrar os preconceitos sobre os alvos da evangelização da igreja. Comumente encontramos pessoas não membros de igrejas e que acham inadmissível alguém, que já cometeu um ou alguns erros, possa “de uma hora pra outra”, alegando um encontro com o Cristo salvador, dizer que agora são salvos e que tiveram seus pecados perdoados. Mais alarmante é encontrar membros de nossas igrejas que aumentam esse coro. Parece que alguns “irmãos” não teriam problema em estar juntos com aquele grupo que pretendia atirar pedras na mulher adúltera e que foi demovido dessa idéia pelas sábias palavras de Jesus que disse: atire a primeira pedra, aquele que nunca errou.
Cristo comeu na casa de um funcionário corrupto (cobrador de impostos), teve os pés perfumados por uma mulher de “vida duvidosa” e foi crucificado e morto entre dois ladrões. Muitas vezes em que esteve com autoridades e pessoas ditas importantes a atitude do mestre não foi de submissão nem de bajulação, antes expulsou com chicote pessoas que faziam do templo um lugar de comércio (fosse aos dias de hoje, teríamos muitos dos eminentes religiosos chicoteados por fazerem da fé uma mera mercadoria) ou ainda enfrentava os poderosos, sem lhes dar tratamento diferenciado.
Não quero com esse texto defender uma teologia exclusiva para excluídos, nem é isso o que nos propõe o Senhor Jesus Cristo. Mas dentro ou fora da igreja precisamos pensar que a proposta do mestre é para aqueles que independentemente de condição econômica ou social se reconhecem incapazes de, por um esforço próprio, resolver o maior desafio do ser humano: o destino de sua alma. Jesus disse que veio para os doentes e não para pessoas sãs. Isso quer dizer que, sejamos um dos importantes ou dos excluídos é necessário aceitar o sacrifício de Cristo. À igreja, resta ofertar um Jesus suficiente para todos, independentemente da posição que esta pessoa ocupa ou do título que ela ostenta.
Ibnéias Costa da Silva, sem data