Luz, Uma Escuridão Dobrada
Quando pensamos a respeito da luz, como fenômeno físico. Aquela concentração de partículas em movimento acelerado, pensamos a respeito dos conceitos de força e tempo. Mas muitos teóricos enaltecem a luz, como um desbravar das trevas, que surge com ares prometéicos. Seria o fogo divinizado que abre clareiras em meio à densidade de uma floresta trevosa.
O chamado Espaço ou Universo, porque não chamarmos Multiversos, é uma noite intensa, engolindo o que há, apenas com pontos de conflito, onde podemos contemplar corpos celestes, fundamentando nossa ciência astronômica. Estamos cercados de trevas, a escuridão reina como o corpo da Nuit egípcia.
Em outro ensaio tratei do conceito de Dobra, neste, sirvo-me dele para expor uma nova perspectiva sobre a luz, onde a mesma aparece não como força que impera sobre a escuridão, mas como conseqüência das trevas. É na escuridão que se faz luz, porque precisamos dobrar o negrume, que em sua expansão sofre o efeito da dobra, contorcendo-se em um movimento que impõe limite, criando infinitos momentos que se conectam e desconectam.
A escuridão ao se projetar, conforme o lineamento espaço-temporal, atinge pontos de limitações, causando rupturas em um ir e vir que é fluxo ininterrupto. Uma espécie de onda que quebra voltando sobre si, uma espiral que vai circulando infinitamente, o Eterno Retorno que sofre o efeito de uma mola, vai e volta dentro da perspectiva projetada.
Tal ir e vir, quase passa despercebido, já que a escuridão aos olhos do cego é permanente. Mas eis que surge o fenômeno luminoso, aquela faísca que salta em cada dobra, o resquício do choque causado pela potência do ato. A luz é essa fresta manifesta no momento de maior tensão da dobra, quando está para concluir a dobradura ou quando acaba de desfazê-la, ou seja, a luminosidade revela o desdobramento. Se planificamos as coisas em uma superfície contínua, não poderemos reparar essa lacuna, a brecha que ascende.
Quando dobramos, criamos o máximo de tensão para executar a curvatura, fazendo com que ocorra uma quebra, ou seja, um ângulo, que é a torção, que forma um arco. O arco quando forçado, promove um Crack que faz dispersar uma gama de energia em um rompante gigantesco. Seria como deixar água retida em um recipiente, liberando por orifícios diminutos, sendo que não pararia de jorrar na outra extremidade, para estar sempre abastecendo aquele espaço. A força da água jorrada auxiliaria no processo de expulsão das pequenas frestas.
A água vai continuar o seu fluxo, mas o diferencial entre um estado e outro é o orifício, pois ele determina uma transformação, provocando variações. Imaginemos que os orifícios são poros da própria água, que se contorce em si, um redemoinho luminoso, já que a luz é a manifestação desses pontos de dobra. Se fecharmos os olhos, aquela quantidade de pontos luminosos em meio a escuridão, demonstram os infinitos Cracks ocorrendo sem interrupção.
Percebemos essa dobra como luz, porque somos seres dobrados, iluminados. Nosso cérebro aquoso é prova desse fenômeno, com seus impulsos elétricos, geramos energia concentrando força, simulando um núcleo que constantemente tentará se romper para expandir, em um processo de reintegração. A maior luminosidade serve como escala de dobras, podendo a partir delas criar uma trilha, que como a da história de “João e Maria”, tende a ser apagada, por estar sendo demarcada a cada instante, em uma movimentação infinita.
A luz é uma ilusão que temos quando ocorre a dobra da escuridão, ela ofusca essa expansão que tende a suprimir o luminoso. A luminosidade não é causa da escuridão, nem pode se consolidar por si, mas é consequência da dobra-escura, diminuindo a cada instante, enquanto as trevas buscam se restabelecer na sua continuidade expansiva. Não existe luz eterna, mas somente rupturas de dobras: com longa, curta ou média duração. Assim, um fenômeno luminoso como o sol, pode ser uma ruptura de longa duração para nós, mas de pequeníssima longevidade, se comparado à imensidão do Espaço-Negro.
O que nos Anima ou Alma que também é a do mundo, consiste nessa força da dobra manifesta nesse núcleo simulacro. Morrer é se desdobrar, voltar a fazer parte do fluxo, em um fluir feito o rio de Heráclito, onde imergir ou emergir é o mesmo que mover-se dentro do leito, são as dobras causadas feito corredeiras.