ELOGIO À LOUCURA
O manifesto presente, caríssimos poetas, é para mim o cerne de toda poesia. E qual seria, então, o fundamento da poética de hoje e de ontem e, porque não, de todo o sempre¿ a loucura! Sim. A loucura, a base de tudo. Senão vejamos.
A loucura é o fundamento da poesia porque os loucos são poetas. Os loucos enxergam. Os loucos veem o que não vemos. Precisamente veem o mundo fora do mundo. Vêem o tempo além do tempo. Veem tudo. São predestinados os loucos¿ Ora... Ora... São loucos! E porque o são veem o que não podemos ver: o óbvio!
Passemos para o que interessa. Para o poeta toda a inclinação para a ilogicidade é a razão absoluta do poema. O poema não possui um sentido. Os outros é que o dão. Os outros querem do poema um significado porque precisam se agarrar a alguma coisa. Saber o significado das coisas é um refúgio. Obter a guarda dos sentidos das coisas é tranquilizador. Mas, o poema não é isso. O poema é mais. O poeta não quer isso. O poeta quer mais.
Há os que olham o poema de soslaio. Há os que não olham, escrevem sem olhar. Há os que sentem no peito um aperto. Há os que apertam palavras. Há, ainda, os que não sentem, seguem o fluxo das marés.
O poema é a razão sem razão. No fluir das mãos o texto segue o seu caminho: ser pedra, ser vento, ser homem e mulher. Ser a verdade e ser a mentira. Ser, simplesmente.
O poeta, por sua vez, quanto mais escreve menos pensa. A poesia não é pensar. Não estamos aqui a falar: pensa-se um verso ou sente-se um verso. Um verso é um verso e só. Os versos são sorrateiros, são feras que espreitam, que atacam e ferem, mas, às vezes, se deixam pegar. Por instantes, breves instantes nas mãos do poeta.
É o momento da sublime loucura a pretensa captura.
Um brinde aos loucos poetas!