ESCREVER PARA MIM

Escrever para mim é algo que nem a palavra pode conter. É dizer o nome da amada. É dizer e não dizer nada. É fazer de si o maior palhaço e a mais doce risada. É escrever na areia o melhor dos poemas, mas quando as ondas se aproximam, tudo apagado, letras efêmeras. Escrever para mim é mais que sentido. Eu vejo poesia. Eu ouço poesia. Eu tateio poesia. Eu degusto poesia. Eu pressinto poesia. Escrever para mim é lembrar de goiaba, manga, ameixa e jabuticaba. Tudo arrancado no pé. Infância. E lembro de Drummond, da língua entrecortada do namoro, das brigas no jogo de futebol, das palavras feias que não se diz e não se deve dizer nunca, mas como disse. Escrever para mim é um prêmio e um tormento. Prêmio porque é um prazer observar as coisas e tirar de tudo mais e mais histórias. Tormento porque há a necessidade urgente de escrever. Escrever sempre. Pobre poeta. É preciso escrever. Viver não é preciso. Escrever sim. E escrevo. Caneta, lápis, pena e tecla. Papel, embrulho, parede e tela. Escrever o sim e o não. Escrever o dia e a noite. Criar mundos, como comenta Umberto Eco. Criar mundos e mobiliá-los. É preciso ser inteiro com as coisas e com as palavras. Escrever para mim é um jogo, uma comida, um cheiro, um beijo, um aperto no peito. Escrever é um mistério.

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 23/11/2011
Código do texto: T3351751
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.