Da Necessidade da Morte ou A Não Existência de Deus

Em um ensaio que escrevi, intitulado “O Tempo Que Escapa”, abordei uma teoria acerca do desenvolvimento do que denominam “vida”, com a implicações temporais e não-temporais. Como analogia, expus o exemplo de uma reta matemática, em que temos uma seqüência positiva de um lado e negativa de outra, fazendo com que um número positivo, por exemplo, gere conseqüentemente um negativo, o que causaria a anulação de ambos se os dois fatores se encontrassem.

Se pensarmos em teorias da Física, quanto falamos de potências de força que geram movimento, ou mesmo em aspectos da fisiologia, podendo se ater em especial a neurologia. Teremos os neurotransmissores e seu potencial de ação. Baseado em tais exemplos, vemos uma polarização, grosso modo falando, matemática. Onde se cada matéria gerasse uma anti-matéria em igual proporção. O excesso de um lado causa falta no outro, pensando em muito negativo acumulado, teremos por lógica, pouco positivo.

Devo salientar, que o zero se faz força anuladora, ou não-força, ele é a aniquilação dos opostos. Por isso se faz neutro, não interfere por ser um não-valor, se faz apenas onde ocorre o não-feito.

A partir dessa lógica, temos a questão da morte, já que a mesma se apresenta para muitos como condição nefasta da existência. Mas se pensarmos, acerca apenas da trajetória de nosso planeta, que remete a tempos inconcebíveis, por mais que se especule a respeito de sua gênese. Teremos gerações e geração de organismo nesse processo de nascimento e morte, ou positivo e negativo.

Quando exemplificamos com os ditos organismos mais complexos, como o humano, temos a tendência em pensar em teorias de designer e outras vãs especulações de uma origem. Mas basta reduzir a nível microscópico, para que tenhamos noção desse processo de transformação, que ocorre a todo momento enquanto estamos “vivos”. Pois nosso corpo sobrevive, a custa de diversas mortes celulares, bacterianas, virais, parasitárias, etc. Nós estamos com organismo se reproduzindo e deixando de existir em nosso próprio corpo, interno, podendo utilizar os exemplo já citados acima, como externos, caso queira, algo mais visível, os ácaros.

Porque seríamos tão diferenciados em relação aos outros seres, que ao longo desse processo de transformação, estão se destruindo? Pois é a destruição que possibilita a concepção de uma nova forma, já que o acúmulo em demasia, pensando mais uma vez no “positivo e negativo matemáticos”, irá em dado momento se deparar com um outro extremo que lhe falta, causando desse encontro a aniquilação de ambos. Tal desproporção de um lado e outro, apenas faz com que tais opostos se espalhem, num sentido mais generalista, chamaria de uma disposição horizontal, até o momento que a curvatura espacial provoca entrecruzamentos aniquilatórios.

Assim, a morte é necessária, pois se estamos hoje aqui, é por causa desse processo de expansão ou escorrimento — porque não dizer “rizomático”, pensando em Deleuze e Guattari —, como também do aniquilamento, que forneceu novas cadeias de conexões, criando estes organismos que vão gerar novos processos rizomáticos, já que essa disposição contínua horizontal, é que favorece a permanência de uns seres em relação a outros. Aproveito este tópico para deixar claro que o objetivo não é evocar um caráter ôntico ou metafísico, já que os considero bem trabalhados por Nietzsche, Heidegger, Sartre, entre outros.

Aproveitando a citação do nome Nietzsche, apresento a argumentação seguinte que propõe o título, que seria da não existência de deus, quiçá divindades. Por estar impregnado desse pensamento chamado ocidental, acabo utilizando com recorrência o deus unitário judaico, mas deixo claro que o texto aqui exposto, trata de quaisquer divindades, seja de caráter mono ou politeísta.

Dentro dessa lógica matemática exposta, deus caberia apenas em uma das três possibilidades, a saber: ou seria um pólo negativo, logo incompleto e passivo de aniquilação; também podendo ser positivo, aplicando as mesmas características do anterior; ou, por fim, seria o zero, o equivaleria a nada ser, não representando valor algum, o que relegaria a algo conseqüente, já que as causas seriam outras.

Portanto, a existência de deus é algo refutável, por não ser sustentável nas possibilidades apresentadas, pois lidamos com variáveis e singularidades, o que diferencia de um fenômeno divino imutável e constante, mesmo o tempo, aparece como fator condicionado, sendo passivo de uma aniquilação de um não-tempo, tendo apenas a aniquilação atemporal de fato.

Alguns argumentariam acerca desse generalismo aqui exposto, ser tão pouco consistente quanto uma concepção divina. Peço aos críticos, que busquem respostas nos fenômenos físicos, químicos, fisiológicos, etc. A título de experienciação, no que concerne às suas características mais diminutas ou menos generalistas, para constatarem evidências. Já não posso pedir que façam o mesmo em relação a um suposto divino, pois faltam evidências experienciáveis, assim como fenômenos físicos.

Ainda exporia que de certa forma, nega o princípio mais amplo evolutivo, já que mais se envolve do que desenvolve, criando uma relação mais parasitária de busca por suplemento, tentando o mínimo de perdas, mas sem a consciência disso, estando relegado a um processo que foge ao seu controle, tanto racional quanto físico, já que a níveis “essenciais” — o termo aqui apenas serve para empregar um sentido mais profundo, não como determinante —, os fenômenos são casuais.