Sobre a Igualdade

A chamada Igualdade, lema tão em voga, ainda mais após a Revolução Francesa e o seu “Liberté, Egalité, Fraternité”, aparece neste ensaio, com intuito de ser desmascarada, ou melhor, apresentada com outra máscara, já que vivemos em um mundo de Personas sobrepostas.

Fizeram do conceito de igualdade, um mito, dando ênfase em sua utilidade, chegando ao ponto de torná-lo lei, um direito, vide nossas constituições republicanas. O objetivo deste ensaio, não é discutir as diversas concepções criadas acerca desse tema conceitual, mas discorres sobre sua aplicabilidade, se de fato possui utilidade, sem cairmos em utilitarismos.

Partindo do mesmo momento histórico, a Revolução Francesa, onde já se faz notória a exaltação dos direitos individuais, o próprio lema se faz contraditório. Pois liberdade não possui harmonia com igualdade e fraternidade. A não ser que nossos conceitos de liberdade e fraternidade estejam atrelados ao de igualdade. O próprio Montesquieu que expõe liberdade, como aquilo que é feito dentro da lei, eu seu pomposo Espírito das Leis.

Realmente aqui tratamos de espíritos, fantasmas, mitos, já que tais abstrações não dão conta da nossa vã realidade. Pensando nos direitos do homem e do cidadão, vejam que aparecem no singular, homem e cidadão — sendo redundante para enfatizar — demonstram a preocupação em particularizar, individualizar, o que não espanta certo harmonia com os chamados Liberalismos, já que o conceito de liberdade aparece inclusive no nome do movimento.

Mas não iremos discutir se a liberdade dos três princípios franceses é de cunho liberal, oligárquico, democrático, vamos nos restringir ao lema igualdade. Apesar de sua distinção, mencionei os outros por estarem diretamente ligados, o próprio Norberto Bobbio menciona a Revolução Americana e a Francesa como pontuais na concepção de direito individual, na belíssima obra “A Era dos Direitos”, por mais que digam que sua tendência seja liberal.

Sendo assim, pensar em direitos individuais, pressupõe direitos jamais igualitários, pelas exigências díspares de cada sujeito, causando conflito em um ordenamento que se diz igual. Alguns fazem piadas do tipo, constitucionalmente falando, uns são mais iguais que os outros. Dentro dessa perspectiva cínica, já salta aos olhos a não funcionalidade ou utilidade do lema igualdade.

A igualdade se demonstra eficiente apenas no campo abstracional, ou seja, quando dizemos que todo homem tem direito, logo, presume-se que todos os que são homens o tem. São associações no campo imagético-dedutivo, mas não realista, pois exclui fatores ocasionais, que são os verdadeiros ditames. Para entender o tamanho da encrenca, criaram dois gêneros, masculino e feminino, se nasce hermafrodita, siameses, e outras derivações que não atendem a esse perfil bifocal, ficam tentando enquadrar o nascido com outras abstrações do tipo, o que determina o sexo é essas característica ou essa outra, como podem excluir, criando conceitos anômalos, tornando-os anomalias.

O igualitarismo pasteuriza, criando um modelo de ordem produtiva, sequencial, desejando fazer um padrão de rebanho, onde não se distingue quem é quem, logo, pouco importa na hora do abate, se uma ovelha comeu e outra não. Ainda assim, creio que pastores são mais zelosos. O fato é que a igualdade anda de mãos dadas com a estatística, ela nos torna fracionáveis, meros números acrescidos ou subtraídos, no máximo multiplicados ou divididos, perdidos nesse pitagorismo aplainador.

A função da igualdade é tornar sem vida, fazer de “cada um” um “qualquer um”, você que sofre não é o fulano de tal, que passou por isso e isso, vive em tal local com tais pessoas, será apenas a pessoa, o cidadão, aquele que não é diferente de tantos outros. Nossa avaliação passa a ser de cifras por atacado, como nas grandes guerras, contabilizando seus mortos.

As religiões são eficientes na aplicabilidade da igualdade, já que pregam um além vida, a busca pelo inverossímel, seus sistemas de credos, onde todos são taxados de mesmo. O Um religioso é mentiroso, pois é Uno, engloba tudo, excluindo sua própria referência, o torna agregado, apêndice.

Essa é a conclusão sobre a igualdade, ela é um nada que só pode ser realizada no campo abstrato, já que só existe no não-ser, naquilo que deixa de ter sentido, buscando ecoar em vazios. Chamo a atenção para o cuidado com a igualdade, pois ela sempre tem latente o desejo de impor tudo e todos a Um. O igualitarismo é pernicioso. Pois o embate entre os diversos, é como a vida que nos arrebata, composta de movimento, já a igualdade padroniza, mas não como o instinto natural que tende a modificar-se em prol da espécie, ela vai contra os interesses do grupo, por justamente ir além das necessidades, fazendo cárcere. Enquanto o instinto procura dar sobrevida a espécie, a nossa igualdade contamina com valores que já deveriam ter sido extintos, reproduzindo moralizações que perpetuam.

Por fim, aos igualitaristas que desejam levantar sua bandeira de igualdade, peço que morram, pois é a verídica forma de se fazerem iguais, deixando de existir. A morte promove a igualdade, faz parte do campo do não-ser, Thanatos estará sempre de braços abertos aos cordeiros, que queiram realmente se empenhar em sua causa, o único sentido igualitário, o dito sacrifício, como já se fez de exemplo o messias de vocês, aquele que ainda chamam de cristo.