Desperdícios de Inteligências

Uma frase difundida, é que o sujeito “desperdiça sua inteligência” em dado lugar. Utilizada para incentivar pessoas a buscarem outros empregos e outras formas de promoção, além de questionamentos do uso acerca da chamada “razão”, numa repreensão de um professor ou pais, nos dois casos quando os alunos/filhos não agem conforme os tutores desejam.

Este ensaio tem como objetivo, refutar essa frase difundida. Pois é notório, que os estudos científicos, nos processos anatômicos, fisiológicos, mesmo genéticos, demonstram singularidades acerca de cada indivíduo. Mesmo pensando em pontos com certo grau de paridade, não se questiona muito na contemporaneidade, o fato de cada pessoa ser distinta, fato consumado nas mentalidades, no mínimo desde a Revolução Americana e posteriormente Francesa, tendo como parâmetro a chamada Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Não entraremos aqui numa real data de surgimento, por isso ser impossível de constatação, já que surgiriam cadeias teóricas que inspiraram, remontando antes dos eventos citados, além de não cairmos na ingenuidade de um determinismo histórico-conceitual.

Baseados nas distinções humanas, é dedutivamente perceptivo que os cérebros, conseqüentemente as inteligências, seguem esse mesmo ritmo. O que faz pensar na não possibilidade de estabelecer uma regra acerca das inteligências, sobre qual teria mais ou menos valor. Isso seria, como classificar uma pessoa tendo mais valor que a outra, ignorando uma série de fatores que jamais demos conta, justamente por escaparem de nossa forma de compreender.

Traçar estatísticas de inteligências, como os denominados “testes de Q.I.”, apenas criam um campo de conflito, para um determinado fim. Como por exemplo, certo setor no mercado de trabalho, precisa de uma mão-de-obra específica, criando essa forma de seleção. Não que os aprovados sejam superiores aos outros, apenas tiveram um percentual inteligível apropriado àquela condição. Seria parecido com um acidente de trânsito, que um veículo é atingido do lado esquerdo, quem estiver ali localizado, será a vítima, a loteria que ninguém gostaria de ser premiado.

Dizer que existe um desperdício de inteligência em dado setor, significa a princípio, menosprezar todas as outras que a li se encontram, o que comprovamos ser inverídico, pelos parágrafos acima expostos. Já que o sujeito que se destaca em uma área, conseqüentemente não se destacará em outra, pois não existiu ainda um que se destacasse em todas, salvo especulações religiosas, onde aparecem seres místicos com atributos além dos nossos, ou melhor, os nossos elevados a enésima potência. Já que não podemos conceber o que está além de nossas faculdades, o inconcebível.

Exaltar um pensador, assim como um artista, enfim, qualquer indivíduo que se destaca em uma área, é desejar fazer dele um mito, torná-lo um herói naquilo que nos consideramos deficientes, menosprezando o que neles é impotente. Me faz pensar naquelas mulheres de photoshop, tão bem feitas, que parecem com tudo, menos uma mulher.

Ainda existirão os críticos, que tentarão expor pessoas chamadas “deficientes”, com algum denominado “problema mental”. A própria neurologia admite sua falta de informações acerca do cérebro, quem somos nós para especular acerca de alguém, taxando-o de deficiente, por não fazer parte do que consideramos “normal”, “sadio”. Para maiores esclarecimentos, vide Nietzsche, “Vontade de Potência”e Foucault na obra magnífica “Os Anormais”.

Assim, concluo não existir desperdício de inteligência, e que reunidas tendem a somar, não ocorrendo algo em demasia que venha a não ser comportado. Muitas vezes ocorre é a parcimônia na utilização das mesmas. Pra isso criaram ótimos aparelhos repressores, prontos a nos disciplinarem, como escolas, famílias, teorias, religiões, etc.