DO INDIVIDUALISMO

Um adulto, que acabou de sair de um abalado casamento, procura superar as dificuldades em seu emprego, disputando uma promoção que pode lhe trazer estabilidade, controle de suas dívidas e a posição dos sonhos.

Um pré-adolescente, em busca da própria identidade, acabou de mudar de cidade e busca se integrar na nova escola, onde encontra um grupo de outros jovens com costumes e gírias completamente diferentes, não parecendo estarem muito abertas a novas amizades.

Um bebê tenta dar seu primeiros passos, pois entende que apenas assim vai alcançar o doce que lhe é exibido como incentivo. A crônica inflamação no joelho direito, até então desapercebida pelos pais, e impronunciável para uma criança de dois anos, dificulta sua estabilidade.

Qual desses é o maior problema?

É certo que o ditame social comum dirá que o desafio do homem adulto é o maior, mais importante e cheio de implicações. Mas é pela perspectiva de quem que enxergamos esses fatos? Através da nossa, que já sofremos problemas com relacionamentos, empregos, dívidas e sonhos? Ou será que se perguntássemos para um garoto qualquer de treze anos que acabou de mudar de colégio a resposta seria a mesma? E se fossemos capazes de entender a resposta gesticulada de gu-gus dá-dás de uma criança de dois anos? O andar para uma criança sem a experiência de andar é um desafio tão enorme quanto o desafio de liderar uma equipe para um novo gerente que não tem essa experiência. Não há maior problema. Todos são maiores, dentro da perspectiva de cada um.

Comumente nos esquecemos de olhar o outro como indivíduo, com seus dilemas e aflições intransferíveis. Somos, pela maioria do tempo, incapazes de entender que as pessoas possuem seus maiores problemas (que não são os nossos.) Deveria ser simples, mas não é. E isso gera a maioria dos conflitos sociais que enfrentamos no dia-a-dia.

O problema do emprego é o maior para o adulto, o do grupo o maior para o pré-adolescente, e o dos primeiros passos o maior para a criança. E para cada adulto, jovem e criança, individualidades diferentes. Cada um com seu seus maiores problemas e alegrias, dentro das crenças, conhecimentos e vivências de cada indivíduo. E quem é capaz de julgar essas diferenças, se é, qualquer um que o tente, também diferente dos outros?

Como já traçava Hermann Hesse em Sidarta, as nossas respostas jamais darão a resposta que o outro indivíduo necessita, apenas o guiarão para que ele próprio encontre a sua. Para uma convivência coletiva saudável não é imprescindível compreender o indivíduo, é necessário apenas respeitá-lo.

Apenas assim seremos capazes de conviver inteligentemente em sociedade, com menos conflitos e sentimentos mais sinceros, trazendo ao ambiente compartilhado as nossas melhores contribuições individuais e fortalecendo o coletivo através do aprendizado inimitável que molda a personalidade e a essência de cada ser.

Egoísmo é ignorar o individualismo.

Josadarck
Enviado por Josadarck em 27/09/2011
Reeditado em 10/02/2012
Código do texto: T3243685
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