Sobre a Luz
Há muito que se tem questionado a respeito da luz. Como epígonos de Prometeu, buscamos o sentido dessa luminosidade, ela se tornou tão brilhante diante de nossa ingenuidade acerca da mesma, que a divinizamos. A luz é tão insignificante, que num Espaço, onde nem se pode prever a distância, ela se faz de forma isolada, mesquinha, diante da imensidão das trevas.
De onde enxergamos, onde nossos olhos considerados turvos, se deparam com a claridade, paira sobre nossas cabeças telúricas, e dizemos que é grande por vir de cima, mas basta estar fora desse invólucro de massa, denominado Terra, e ela se faz pequena, como a visão de um astronauta. O sol não é o único astro e nem o mais potente, que decepção para os egípcios e tantos outros adoradores dessa luz ou Rá.
E mesmo o sol, deixará de existir, expirará como tudo que existe, concebido dentro dessa ideia de finitude vivificada. Dizem que nos faz enxergar sobre as coisas, mas antes nos faz ter uma impressão sobre as mesmas ,que nossos sentidos orgânicos captam, de uma forma diferenciada de outros seres vivos, mas que esse impressionismo não é louvável, apenas reflexo do que a luminosidade provoca.
O astro que alguns disseram ser "rei", perde sua soberania aristocrática, cada vez mais se torna diminuto, comparado a tantas outras formas, negam até seu afeto sobre a lua e atribuem a ela a causa da luz noturna. Não se tem mais a imagem de Apolo esplendoroso, nem da figura do GRANDE ESCARAVELHO, quem dirá aqueles halos famosos que se tornaram caricatos em representações cristianizadas.
Mas atribuem ainda assim um sentido sobre a luz solar, apesar de saber da vida que se esconde dela, nos confins oceânicos denominados abissais. O que remeteria mais uma vez, aquele sentido considerado pagão, onde o sol era o fertilizador, pois estamos acima da terra e por isso precisamos do sustento que provém dela.
Nas entranhas não existe o mundo infernal, no máximo algum encandecente magma, nos céus contemplamos vez ou outra algum astro desintegrar-se, ser reduzido a no máximo, uma poeira cósmica, que é varrida e captamos anos-luz de distância com nosso olhar de Curupira.
E quanto à glorificação do sentido visual, os chamados cegos, mas que apenas não enxergam com olhos, ignoram essa necessidade visionária e captam algo além dessa impressão. Nós, que também utilizamos outros sentidos, ofuscamos muitos deles pela ilusão que a luz nos causa, como na caverna de Platão, a luz afronta a vista. Não que houvesse uma escuridão conforme o filósofo ressaltou, nós que acreditamos na luz, por isso em contrapartida precisávamos da escuridão.
Mas luz e escuridão são duas ilusões, pois só existem como dualismo insensato, pois quando cessam os sentidos, nem um e nem outro sobrevivem, ambos não passam de uma comparação deficiente entre um e outro, o que se coloca como claro, enxerga no escuro uma outra esfera, e vice-versa.
Acreditamos que ousadamente roubamos o fogo sagrado e nos colocamos nessa luta pela lux. Ao mesmo tempo nos martirizamos pela responsabilidade, idealizamos que em tempos primevos Thor brandiu o martelo e contemplou os hominídeos com a descoberta de um fogo dos céus, como se uma chama só se pudesse produzir assim. E se o fogo é tão importante, porque no Espaço ele é nulo? Sendo que, faltando elementos de influência, a chama se faz desnecessária, como o sol que perde seu sentido e cada vez abranda mais suas explosões atômicas.
Oh Phosphoros, coitado de ti! Lucifer, sua condenação foi em vão!! Escaravelho, porque tanto trabalho empurrando aquele halo, porque não ficaste com suas fezes?
Ainda existem os impulsos elétricos, a descoberta da eletricidade e sua motivação mecânica, as sinapses cerebrais. Atribuir a eletricidade um sentido por si só, é desejar chamá-la Thor. Como se o relâmpago fosse resultado de uma causa primeira e cortasse os céus, caindo feito uma flecha luminosa, ou rasgando o véu de nuvens.
Pensar sobre o sentido elétrico é dizer que somos relâmpagos mistificados, é ignorar todo o processo envolto de substâncias que causam o fenômeno, e que mesmo a nível fenomenológico, não passa de efeito, assim nós apreendemos, como seres efeituais que somos. A única sabedoria disso é que nossas sinapses são a prova que um raio cai mais de uma vez no mesmo lugar, ao contrário do dito popular.
Quiseram fazer da luz, conhecimento, fazendo nossas cabeças de luminárias, sendo que à ignorância atribuíram o sentido de escuridão. Nosso conhecer é ilusório, como os raios luminosos que adentram nossa retina. Nós sabemos sobre esse não-saber, ele não é claro e nem escuro, ignora as nuances, dilui qualquer possibilidade de saber sobre si, só nos permitindo ter ideia sobre, a partir do momento que não é mais.
Diógenes, apague sua lanterna, ela é inútil!!