Sublinhado

Pensar no fênomeno de "sublinhar" que aparece num texto é algo perturbador.

Pois a linha de baixo, por isso se chama "[sub] linha", vem como uma espécie de rejeição do que está acima. Ao mesmo tempo ela destaca aquele trecho que transborda, pois é uma duplicação da linha acima pré-estabelecida.

O texto preciso de um espaço para se posicionar, ou melhor dizendo, precisa se territorializar, a linha é sua base, seu marco onde pode firmar sua posição. Ainda que ocorra a ditiação no computador, mesmo que não vejamos, a linha existe, ela está oculta aos olhos, não a metrificação computacional.

Mas numa folha de papel em branco se dá o mesmo, pois buscamos a todo instante a linha, para dar um sentido próximo ao reto na escrita, queremos estabelecer a ordem do texto, ao contrário da "desordem" infantil que escreve até nas bordas de uma página.

A sublinha vem demonstrar que existe algo que pode fugir a essa estrutura, ainda que atenda um anseio da mesma, pois reflete a linha fazendo-se uma sombra num segundo plano inferior, causando o efeito reflexivo numa duplicidade linear.

Quando selecionamos o objeto pelo método de sublinhamento, estamos criando uma alternativa ao já dado, agregamos um segundo plano, projetamos numa segunda instância para que ocorre um destaque aquele desejo expresso, nossa forma de ressaltar o real fragmentado através de um simulacro.

Não podemos criar um outro plano, no sentido de idêntico ao primeiro, mas criamos a ilusão secundária, um perfeito simulacro que irá sobressaltar aquele objeto, numa linha dupla, é um "estrabismo". Deturpamos nosso foco visual ao desviar para um segundo plano, não deixando a visão retornar ao ponto inicla sem a captação dessa duplicidade forçada, somos levados a um 'hipodesvio" e nos tornamos "estrábicos" depois disso.

Logo, o sublinhado não passa de um hipodesvio que criamos por conta de uma necessidade em fazer prevalecer um outro sentido sobre o sentido já dado, criando uma idealização planificada do objeto desejoso.