Sobre o Dia e a Noite

Hoje, após os ditos de Galileu, que o levaram à reprovação de uma Igreja da época, é possível, baseado no conhecimento astronômico e físico-terreno, dizer que dia e noite são efeitos de um movimento planetário. Dessa forma, o sol torna possível o que conceituamos dia, sua ausência, ao planeta virar-lhe as costas, conceituamos noite.

Tal ensaio visa demonstrar um outro sentido acerca dessas ideais, dia e noite, na aplicação onírica das mesmas, imaginando uma semelhança entre as esferas correlacionadas.

Quando acordados, estamos sob o efeito do que a visão capta, mas essa percepção sensorial se dá sob a influência da luminosidade. Não que acordados vejamos apenas o dia, também visualizamos a noite, mas ambos são percebidos em uma ótica movida a feixes de luminosidade.

Logo, nos fazemos dia para visualizar o mundo, isso apenas a título de visão ocular, pois os desprovidos dessa, chamados cegos, possuem outra forma de visão tátil. O Homem Dia seria o sujeito que enxerga sob influência luminosa.

No outro extermo, ao tratarmos do estado de sono, quando nos fechamos para a recepção luminosa, quando também damos as costas à influência da luz recebida, podemos denominar tal estado como noite. O Homem Noite seria o sujeito fechado para a influência da luz.

Assim como dia e noite, tais estados não representam a ausência de realidade em uma das esferas, como alguns conceituaram o sono como uma retirada do plano real. Nada disso. O sono é outra esfera do realismo, muda o nosso estado perceptivo acerca do ambiente.

Esses estados são independentes do dia e da noite, podemos ser um Homem Noite de dia, para isso existe o sono diurno, como estar acordados à noite, sendo Homem Dia de noite. Tal fenômeno pode se tornar mais complexo.

Devemos nos lembrar do eclipse, onde o sol pode se ocultar durante o dia ou a lua na noite, nesse caso, o Homem Dia e Noite assume certa confusão de valores, onde seu objeto determinante confude-se com o determinado, sem que um substitua o outro.

O eclipse solar não significa a extinção do sol como certos pensamentos acreditavam. Assim, pode o Homem Dia sofrer certa conturbação mental que o faça sonambulizar mesmo acordado, assumindo quase um estado de sono concreto, inclusive com sonhos impressos que confudem sua distinção sobre estar acordado ou dormindo, ou como vulgarmente se chama, entre o real e o irreal.

Da mesma forma, o Homem Noite ao adormecer, pode manter-se em estado de alerta, apto a apreender o que ocorre no momento em que seu corpo relaxa, apreendendo sons, odores e inúmeros outros fatores que costuma não distinguir ao dormir de forma habitual.

Os estados intermediários, entre dia e noite, podendo denominar aurora e crepúsculo, também podem ser associados ao Homem Dia e Noite, já que ambos transitam entre dormir e acordar, o que causa por exemplo, num sujeito que acabou de despertar, lembranças vivas dos sonhos ou antes de dormir a dificuldade em desvencilhar-se da agitação de estar acordado.

Finalizando, o ponto convergente entre as analogias feitas é a luminosidade, que irá distinguir dois estados de uma realidade sensitiva, não caindo em um platonismo de mundo falso e verdadeiro, mas sim de um sensorial que atua conforme o estímulo recebido ou a interferência causada nele.