A Divisória
Pensar numa divisória é algo intrigante, pois ela se apresenta enquanto "entre". Posicionada de modo a provocar uma ruptura no ambiente, causando uma duplicidade dimensional.
Como exemplo, podemos citar um caixa de uma recepção, apresentado ao cliente como um "estar-dentro", em relação à perspectiva do que o observa de fora, mas o exterior é dentro aos que se encontram exteriorizados, ou seja, tornar-se interiorizado.
O caixa assume a postura no instante que adentra o local de trabalho, se posicionando conforme a ruptura, tornando-se um outro em relação ao que era antes da entrada. A divisória, por ter orifício de recebimento, acaba favorecendo uma relação entre os ambientes distintos a partir dela.
Um braço que atravessa a divisória, adentra outra dimensão, causando o estado de estar "dentro e fora" ao mesmo tempo, no sentido de desmembramento do objeto-corpo. Pode tanto resgatar o braço atravessado, tornando-o parte do corpo outrora separado, quanto, dependendo da possibilidade de abertura, deixa o restante do corpo adentrar, caindo por completo no que antes recebia apenas uma pequena fração de si.
Mas a divisória possui uma signifância curiosa, ela não apenas delimita o dentro e fora, particindo dos mesmos com uma face de cada lado, como ao mesmo tempo, não pertence a nenhum deles, por seu centro divisor não estar passivo de fragmentação.
Devemos entender que o fator divisional é dado num projetar-se espacial que não poderá apreendê-lo, mas apenas seus aspectos faciais de contraposição a um estar-dentro e um estar-de-fora. O meio-divisor abstém-se da rendição imposta por si aos outros, mantendo uma natureza indivisível, única forma de impor-se.
Portanto, não é a realidade em-si que foi dividida, mas uma percepção acerca de um dado momento em relação a um determinado aspecto. O momento dado seria a relação entre o que está fora com o que está dentro, enquanto o aspecto teria o caráter de uma necessidade de demarcação para realizar um projeto, que no exemplo citado, seria a função de um atendente.