Pingos nos i’s.
Curiosa é a expressão “colocar os pingos nos i’s”, se repararmos o fenômeno gráfico, não se trata de um acento, daqueles que a gramática confere regras sobre o momento exato de proceder. O “i” possui uma natureza que pede complemento, como se necessitasse de um pontinho a mais, uma quase reticência, que em vez de três pontos horizontais, utiliza apenas um majestoso na vertical.
E o “i” não vem sozinho com esse adendo, o “j” que o diga, um “i” metido, com cauda, que ultrapassa o limite da linha, quando escrevemos no papel pautado. O “i” tem o mistério do ponto, quase um ponto final em suspenso, aquela figura que parece vagar sem quem a sustente, o travessão vertical vem abaixo, mas existe um espaço que os separa, o pontinho segue sem contato, feito planeta no meio do espaço, apenas sofrendo efeitos de uma física de atração e repulsão.
O fato é muito mais delicado, pois o “i” maiúsculo não pede acento, seria por sua soberania de macro? O que parece relagar o “i” minúsculo a nacessidade daquele diminuto tocar da ponta de uma caneta ou lápis, que muitas vezes o escritor esquece, mas a palavra remete o leitor a falta do pingo, sendo que nas letras datilografadas pode um “i” sem acento se passar por “l” minúsculo. Aquele pingo parece ter ar majestoso, uma coroa suspensa, um chakra coronário.
Ainda existe outra indagação gramatical, se o “i” é um ponto de exclamação invertido, ou seria o ponto de exclamação um “i” em inversão, sendo que o pingo de cima passa para baixo e faz flutuar aquele impávido travessão vertical. Na exclamação não existe um outro maiúsculo. Assim, o “i” se faz um apresentado-se como dois, a constatação inegável do “dois em um”, feito xifópagos (siameses), unidos por uma força invisível, a lacuna, que separa o ponto do travessão.