Cérebro
"Aquele outro órgão a que chamamos cérebro, esse com que viemos ao mundo, esse que transportamos dentro do crânio e que nos transporta a nós para que o transportemos a ele..." (SARAMAGO,2000:82)
Entendendo a lógica, o cérebro que faz parte de nosso corpo, está protegido dentro da "caixa craniana", como que sendo transportado pelo corpo que o envolve e transporta.
Entretanto, é este cérebro que determina as funções do restante do corpo, fazendo com que, não ele seja transportado, mas que conduza a si próprio, inclusive o corpo envolto.
Mais ainda, o cérebro que nos faz perceber a realidade, capitando o que há em nossa percepção em um processo cognoscitivo.
Assim, quando percebemos o cérebro, transportamos sua "forma" à nossa mente e procuramos compreendê-lo, torná-lo inteligível, o que se compreende como um transportar abstrato.
Mas não o transportamos, mas sim o próprio cérebro, ele sim é o condutor de si, o que nos reporta a constatação de que fomos transportados (de forma abstrata-inteligível, criando uma estruturação epistemológica), embora a mesma impressão que temos nesse processo também é produzida pelo cérebro, fazendo com que tenhamos consciência de o transportarmos a priori, para que possamos compreender a posteriori que nós fomos transportados a ele por ele.
O cérebro percebe-se e eu evidencio, mas o próprio "eu" faz parte dessa percepção cerebral, logo, não existe eu ou mesmo percepção, apenas o cérebro produzindo.
Referência Bibliográfica:
SARAMAGO, José. A Caverna: contos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.