Responsabilidade
Quando se pensa em responsabilidade, tendo como parâmetro o cidadão, logo vem à mente a idéia de deveres recorrentes de direitos, pois o direito indica a priori uma obrigação a um dever.
Podemos inclusive, ser remetidos a idéia de responsabilidade social, além de todas as outras facetas de que a conotação de "reponsável" indica no meio social.
Mas existe também a responsabilidade para consigo, aquela atrelada ao conceito de liberdade, que indica maior responsabilidade sobre si à medida que consegue suprimir a maior quantidade possível de necessidades suas.
Mas são duas coisas distintas, responsabilidade individual e social, pois a primeira se refere às obrigações para consigo, enquanto a segunda para com os outros.
Me recordo de Nietzsche, discorrendo sobre a restrição ao indivíduo, que a cada momento deixa de ter obrigação para consigo, anulando-se, ainda fazendo uma pergunta: quanto tempo dedica a si mesmo?
Pois quando pensamos no que fazemos cotidianamente, trabalhamos para os outros, nos alimentamos por uma necessidade fisiológica, estudamos a partir daquilo que nos foi transmitido, enfim, agimos conforme algo exógeno a nós, ficando a dúvida de quando realmente pensaremos em nós e nos dedicaremos a nosso próprio ser.
Quando o indivíduo irá perceber-se e refletir sobre si, explorando os próprios desejos e criando o senso de responsabilidade para consigo. O "Eu" como meta.
Pois o conceito de reponsabilidade abrange ater-se tanto a atos próprios, quanto aos alheios, mas no meio social costumamos suprimir a si, o que é um fator natural no meio público, devido aos deveres impostos pelo padrão social.
Mas quando imaginamos uma concepção de alteridade que foca o outro como continuação de si mesmo, nos colocamos diante de outro fato, responsabilidade aos outros também é responsabilidade para consigo, além de abranger a consciência responsável do ato, que implica toda uma transformação Em-Si, tornando-me consequência de minha própria conduta, trazendo para si toda a responsabilidade existencial e digerindo as consequências perceptíveis desse processo.
Me reportando a Sartre, quando disse que; "o homem está condenado a ser livre", penso que de fato assim o é, por ter como dever a responsabilidade sobre sua liberdade.
Ainda pensando em Rousseau:"cada um unindo-se a todos, obedece apenas a si mesmo e permanece livre como antes", embora seja uma corrupção do que o filósofo cotratualista expõe, por ter idealizado uma conformidade com um ideal republicano, o que remeteria a um anacronismo.
Pois obedecer, implica agir conforme nossa própria vontade, logo, é consenso, ou melhor, com senso, e por essa razão, foge a imposição externa ao Ser.
Sabendo o homem responsável dar sentido ao ato, conforme a exposição de Montaigne:
"A utilidade da vida não está no prazo, mas no uso."(MONTAIGNE,1961: 41)
Assim, cabe ao responsável, que pressupomos ter a consciência de sê-lo, agir consonante as consequências que pressupõe e acautelar-se dos resultados não presumíveis, cabendo ao mesmo reconhecer-se como demiurgo de si mesmo, sendo que a criação vai além de sua própria percepção, remetendo-nos ao processo artístico que após criado torna-se vivo e póstumo ao criador.
Referência Bibliográfica:
MONTAIGNE. Seleta dos Ensaios de Montaigne. tradução: J. M. De Toledo Malta. prefácio de Leo Vaz. Tomo I. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1961. (Coleção Rubáiyát)