Anacronismo

O anacronismo propriamente dito, quando atribuímos valores de uma época a outra, contrariando ou melhor expressando, ignorando e desrespeitando uma outra realidade.Exemplo: falar sobre internet na Grécia Antiga, sendo que sabemos que tanto a tecnologia quanto o termo não existiam em tal época. Este exemplo esdrúxulo foi apenas para não deixar dúvidas a respeito do anacronismo, mas poderíamos até mesmo pensar em um mesmo conceito em realidades distintas, como por exemplo, a democracia grega e o que nossa sociedade contemporânea compreende como democracia.

Após este breve esclarecimento acerca do anacronismo, vamos a questão que aqui proponho.

É consenso entre as linhas teóricas historiográficas que o homem pertence ao seu tempo, ou seja, está arraigado de valores e consequentemente posturas da época em que vive, sendo passivo as nuances do período em que está inserido.

Principalmente os profissionais de certas áreas, como os historiadores por exemplo, devem ter acuidade no trato de tal questão, respeitando os valores de uma época quando se predispõe a estudá-la, servindo-se de metodologia e postura ética para que possa fazer uma análise criteriosa e buscando denegrir o mínimo possível seu objeto de estudo.

A polêmica que aqui explicito tem como mote este paradoxo, como um homem, sendo sujeito de seu tempo, pode analisar sem cometer o anacronismo, levando em consideração que não apenas seu olhar, mais também o método que emprega é contemporâneo e que consequentemente estará sendo anacrônico ao estudar os processos anteriores à sua época?

A conclusão que chego é que o anacronismo é inevitável, entretanto, é tolerável até certo ponto e intolerável a partir de outros pontos. A validade do anacronismo enquanto "positivo" se refere ao fato de estar limitado há um método contemporâneo, sendo realizado por um homem em seu tempo, carregando no bojo valores diferentes do seu objeto de estudo, levando em consideração que não ocorre um afastamento total entre pesquisador e objeto de estudo, o que nos leva ao segundo ponto, a intolerância anacrônica é o que serve como parâmetro a precaver-se de equívocos.

Assim sendo, quanto mais anacrônico, menos fiel será sua análise e quanto menor esse equívoco, mais consistência obtém na aplicação do método. O olhar afastado deve também fazer o pesquisador atentar-se ao distanciamento, não se fazendo de redentor, mas tendo alguma consciência de suas imensas limitações, procurando em épocas, quanto mais remotas, fontes "brutas", no sentido de mais fidedignidades ao período captado. O que pode-se mencionar como exemplo, a coerência do filósofo francês Michel Foucautl, ao escrever sua História da Sexualidade, a procura em conhecer a língua grega que era a origem de fontes do tema tratado, respeitando a nomenclatura baseada em estudos pautados por referencial teórico de filósofos do próprio período, dando uma maior credibilidade por deixar que falasse quase por si os textos analisados, remetendo-se a um processo hermético de tradução com o mínimo de transliteração que lhe era possível. O anacronismo não exclui a credibilidade da pesquisa historiográfica, mas sempre será uma sombra à espreita, desejando a qualquer descuido, engolir a acreditada luminosidade dos epígonos dos mitológicos demiurgos de outrora.