A Verdade Enquanto Meta
O que seria a Verdade?
Longe de tentar fundamentar uma, apenas a proposta aqui apresentada seria uma reflexão acerca do tema e algumas nuanças sendo apresentadas de forma ilustrativa.
Desde tempos remotos que se busca a famigerada verdade, podemos citar a Filosofia da Grécia Antiga, indo dos pré-socráticos até a nossa sociedade contemporânea, pensando, por exemplo, em um Claude-Lévi Strauss.
Passando por diversas teorias que negam ou procuram validar a chamada verdade, sendo que a própria negação é uma afirmação da negação e a afirmação uma negação da negativa, inclusive com toda uma sistematização para procurar atender as duas propostas opostas.
Podemos nos remeter ao misticismo e a busca por uma verdade inconcebível, absoluta e incontestável, o que regimentaria toda uma construção metafísica, mas também pode se imaginar Parmênides e toda uma experimentação empírica que converge à verdade para aquilo que é, sendo que esse "é" se refere ao que existe e podemos contemplar, embora mesmo os metafísicos possam utilizar uma argumentação sobre a abstração existir no campo abstrato, podendo até mesmo chegar na verdade que é alcançada pelo método cognitivo de um indivíduo.
Claro que os materialistas poderiam urrar, pois atrelariam o verdadeiro àquilo que é palpável e conseqüentemente sujeitando o abstrato a uma experiência prévia, uma discussão que pode perdurar sem tornar-se fértil, tendo em vista a não resolução e a propagação de conjecturas meramente especulativas e fugidias a uma sistematização.
Aqui adentramos a verdade científica, aquela que é a partir do momento que posso sistematizar e comprovar, além de como cita Weber em sua obra "Ciência e Política: Duas Vocações", prever, ou antever, não sendo associado a nenhuma profecia, mas sim a um conjunto lógico de probabilidades.
A Ciência procura então sua verdade para progredir, embora também descarte verdades por substituição a "novas verdades", ou a verdade de fato, já que a passada deixa de ser verdade à medida que surge outra com esse epíteto.
Não nos esqueçamos também da Filosofia, pois esta também serve de sua verdade que é tão abrangente que chega a um certo momento acaba convergindo a algo que é tão abrangente quanto, criando assim uma contradição em si, o que torna necessário que se tenha uma certa maleabilidade.
Não devemos esquecer também do papel factual da verdade enquanto senso comum, moldando um cotidiano que chega inclusive a se tornar impresso e transmissivo culturalmente em uma sociedade, conforme Bourdieu aponta em seu conceito de "habitus".
E como não poderia deixar de mencionar, a verdade também se manifesta na área da História, onde o pesquisador lida com a verdade do documento e ao mesmo tempo toda a contradição envolvida nessa relação, como a subjetiva analítica, o objeto que trata de algo já encerrado, além da hermenêutica que quase o faz aprisionar-se em uma espécie de exegese.
Podemos mencionar desde o rigorismo de antigos profissionais na área da História, quando atestavam estar diante da evidência da verdade, ou seja, o documento oficial, que hoje em dia se tornou algo em desuso já que a História também abriu seu leque de complexidade quando adentrou a categoria de Ciência, servindo-se de tantas ferramentas que se chega a um ponto em que nem mesmo se sabe o que desencadeou aquilo, mas o fato é que paramentado em uma boa metodologia, pode-se não se deixar cair em uma dessas "armadilhas".
O que se observa ao longo da trajetória do "objeto-verdade" é que sua sustentabilidade persiste no ato de ser, mas que sua insustentabilidade está em alicerçar-se apenas em um ponto.A que se refere isso?
A verdade enquanto volátil, assume um aspecto de não fixa, variando conforme um ser metamorfo, talvez algo burkiniano em que permanece a "coisa-verdade", mas ela se adapta para não sucumbir ao processo que é contínuo, o que nos faz pensar em outro fator, que seria o volátil como fator permanente, o que remeteria novamente a um ponto fixo.
Mas quando se pensa em uma transformação sob uma perspectiva heraclitiana, tem-se uma forma diferenciada de observação acerca de tal permanência, que seria justamente esse embate cíclico que se perpetua.
Entretanto por mais que façamos conjecturas, acaba-se caindo na absolutização e sendo apreendido em uma quase "jaula de ferro" weberiana, o que nos faz transpor este obstáculo através de um outro viés, que seria a regimentação abstrata do concreto.
Parece absurdo, e de fato é, mas a que se refere afinal tal desvario?
A verdade torna-se ineficaz quando passa a existir, pois regimentada ela se concretiza em uma antítese de si, já que ao concretizar-se e não conseguir abranger o que há, torna-se ineficaz enquanto absoluta, além do que o abstrato materializado torna-se abstração-morta (servindo-me de uma licença poética), vide o exemplo do pensamento escrito que se torna “letra morta” segundo as palavras de Bourdieu.
Mas quando relegamos a verdade concreta enquanto afirmação de uma existência inerente à um processo cognitivo, temos a verdade-abstrata, onde se faz presente enquanto ou-topos, ou seja, uma utopia.
A verdade é apenas enquanto não-ser, uma meta que se prolonga em uma objetivação inalcançável, um desejar-ser que busca fundar-se em um a posteriori, tendo como discurso um a priori, o que faz com que aquilo que há seja movido em meio a esses dois grandes extremos (mais uma vez pensando em Heráclito), findando a verdade naquilo que foi e que será, mas que nunca é.