Sepultura de um Pioneiro.

Enterro de um Pioneiro!

Conheci o gosto da lama,

só vim com cara e coragem

era então um pioneiro

(e o governo brasileiro

omisso nessa passagem)

nos mandava pro Amazônia

que era pra colonizar

nós aqui fizemos tudo

- apenas para ilustrar-

foi feito estrada no braço

as escolas, hospitais

tudo o que nos prometeram

(e que depois se esqueceram):

Por que aqui era fazer

ou então voltar pra trás.

Voltar eu já não podia,

era no sul porcenteiro

e na década de 70

(o governo brasileiro)

nos fez deixar, vir embora

voltar não dava , agora;

e sem dar nada de graça

só a promessa que a terra

requerendo, nossa era,

mas tudo por nossos meios;

um par de foice e um machado

malaria por todo lado

leishmaniose e a lepra

e a lama acima dos joelhos!

Perdi irmãos, perdi filhos,

perdi a mulher doente

mas eu não tinha opção,

( o governo da nação

ditador ou democrático)

tinha esquecido da gente;

me sobrou dois filhos órfãos

me sobraram ainda os sobrinhos

dei minh’alma de oferenda

e na terra requerida

eu empenhei minha vida

para abrir nossa fazenda ;

e agora chegam “os sem terras”

-que enquanto eu sofria

e a família morria-

viviam la na cidade

e fazem ela invadida!

Me dizem latifundiário,

que só tenho pasto e gado

e vão tomar minha terra

barraco pra todo lado,

até no chão que Maria

eu sepultei certo dia

sem ter acompanhamento

(nem sem terras nesse tempo)

já tem barraco montado,

até o anjico que eu plantei

e com meu pranto reguei

com tristeza eu vi cortado

pra ser transformado em lenha

pra que um boi meu, fosse assado.

Vão me expulsar pra cidade

viver na periferia

já velho e sem ter mais força

pra buscar outro sertão

e fazer tudo de novo

pra outro governo “do povo”

deixar invadir um dia;

e discursando bondade

dizer que a esse bandido

-no quem têm me reduzido-

dará um naco de terra

para que eu seja enterrado

no CAMPO SANTO PIEDADE”!

JJ Braga Neto
Enviado por JJ Braga Neto em 08/02/2010
Reeditado em 08/02/2010
Código do texto: T2075592