Introdução.

Este livro é para professores, mas não para todos os professores: é para aqueles que “sabem” ou pelo menos acreditam que existe algo mais que um amontoado de carne e ossos num ser humano; para aqueles que sentem que além da inteligência aguda e do raciocínio frio, existe um coração, um sentimento, um Ser que pulsa em uníssono com o Universo e que anseia pela Evolução Consciente.

Escrevo para aqueles professores que ainda sentem o apelo do ideal clamando por trás do cumprimento dos programas e sabem que além de ensinar as matérias oficiais, podem ajudar as crianças e os jovens a desabrochar, e, com a ajuda de adultos amorosos, sejam pais ou professores, ter um crescimento menos doloroso e muito mais produtivo.

Ao mesmo tempo, escrevo para aqueles professores que têm os pés no chão e sabem que a realidade atual é difícil e que este momento poderá ou não fortalecer nossos ânimos para as mudanças que estão acontecendo no mundo.

Escrevo também para aqueles que sabem que é preciso firmeza e determinação para lidar com nossas crianças e jovens, e que adultos passivos ou “bonzinhos” não os ajudarão a formar uma personalidade firme e adequada aos novos tempos.

Escrevo também para aqueles que reivindicam melhores condições de ensino e salários, mas que ao mesmo tempo têm o bom senso de não esperar mais do que a realidade de nossa sociedade tem a oferecer.

A vida humana anda perdida no labirinto das idéias, teorias, incertezas e indagações tão presentes em nossa época, e os professores talvez sejam aqueles que mais sentem o peso de tais angústias, pois lidam com o material humano mais precioso: crianças, adolescentes, jovens.
E, ao mesmo tempo em que pressentem a importância de seu trabalho, eles não conseguem identificar claramente os verdadeiros valores sobre os quais teriam que se apoiar.

Poderemos nos aliviar do peso de tais angústias se aclararmos alguns pontos básicos e abrirmos caminho para que o trabalho escolar torne-se mais leve, brilhante e feliz, pois não há necessidade de realizarmos o nosso trabalho sob tal peso angustiante: podemos torná-lo mais agradável se compreendermos algumas verdades simples.

A primeira coisa a ser compreendida é que a Vida não precisa ser tão complicada. Estamos presos no emaranhado de tantas obrigações, burocracias, horários, programas, avaliações, que ficamos impossibilitados de Viver, de sentir cada momento no seu frescor original.

A mente humana tomou conta da vida: tudo é pensado, programado, organizado e acabamos sufocando nossos sentimentos, sensações e necessidades vitais; e quando eles eclodem acabam vindo com uma força desproporcional. Nós não somos só a nossa mente: somos um enorme complexo formado de corpo físico, emoções, raciocínio, pensamento, energias e principalmente de uma parte comumente esquecida: nossa consciência mais profunda, nosso Eu , nossa Essência.

Desde que nascemos somos condicionados a pensar de determinada maneira, a limitar nossos desejos, a abafar nossa personalidade original. Isso é chamado Educação. Todavia, a verdadeira Educação, em vez de colocar uma montanha de conhecimentos na cabeça dos educandos, deveria ir ajudando a desenvolver o que ele tem em potencial em seu interior, através do processo ensinado desde a antiguidade por Sócrates: ”Conhece-te a ti mesmo”.

Não há dúvida de que é necessário polir as tendências naturais do ser humano, de que ele deve passar pelo crivo da civilização; caso contrário estaríamos até hoje no estado de selvageria. Entretanto, nos últimos séculos a balança tem pendido demasiadamente para o lado da racionalidade, da materialidade, da ciência, e acabamos nos esquecendo da intuição, do sentimento, da criatividade, e da espiritualidade no seu sentido mais amplo.

Habituamo-nos a pensar que somos seres humanos a caminho de um dia nos tornarmos espirituais, quando, ao contrário, segundo o filósofo Kierkegaard, “já somos seres espirituais, passando por experiências humanas” e estamos encobertos por camadas de considerações, pensamentos, auto-avaliações destrutivas, negativas, que nos ofuscam o brilho e abafam nossas forças originais.

Tudo isso se aplica às pessoas em geral, mas atinge os professores de forma específica, pois que eles lidam com a matéria prima da Vida: o ser humano em formação.

Não nos esqueçamos também que apesar de sermos seres individuais, dotados de todas as habilidades e capacidades inerentes à espécie, caminhamos em grupo; nossa evolução dá-se de forma coletiva e participamos de toda uma estrutura histórico-social. Este país no qual vivemos, em termos de política, educação e realidade social, faz parte de uma estrutura muito mais ampla e não facilmente mutável.

Entretanto, como seres conscientes que somos, temos condições de, acendendo nossas pequenas lanternas individuais, iluminarmos um pequeno espaço dentro dessa estrutura maior, tornando-a mais leve, arejada e maleável.

A multiplicação desses pequenos esforços individuais criará as mudanças graduais e coletivas, na direção de liberdades cada vez maiores, proporcionais ao aumento de nossa consciência e auto-responsabilidade.

Caro professor, nunca menospreze a importância de sua presença e de suas atitudes numa sala de aula, e a importância de sua contribuição para todo o contexto maior de nossas vidas.

Cada palavra, ato ou atitude, de cada profissional em seu trabalho, por menor e insignificante que pareça, tem seu peso, valor e conseqüência para toda a vida humana deste nosso tão sofrido e querido planeta.

continua...

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Malu Thana Moraes
Enviado por Malu Thana Moraes em 10/09/2009
Reeditado em 01/07/2019
Código do texto: T1803154
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