Do Camelo, do Cachorro, do Coiote e do Papa-Léguas

(13.09.2007)

“O segredo do demagogo é se fazer passar por tão estúpido quanto sua platéia, para que esta se imagine tão esperta quanto ele."

(Karl Kraus)

Eis que estamos expostos ao frisson do consumo; obsessivos, obcecados pela imagem que os subprodutos de ‘marketing’ imprimem em nosso inconsciente. Inventa-se até o que não precisamos comprar e, ainda assim, pensamos que melhorarão nossa imagem, nossa autoestima. Mesmo sabendo, intimamente, que ninguém dá a mínima para o outro: cada um só olha para o próprio umbigo.

Somos o camelo com alguém sentado em cima, carregando uma vara, onde há um barbante com uma cenoura pendurada. O ‘condutor’ é a mídia; a ‘cenoura’, o produto.

E nem todo produto é físico, sólido, como roupas; ou celulares que fazem de tudo, menos dar sinal. Pode ser um serviço, uma novela da TV, um ideal político, uma bolsa ‘esmola’ etc. O condutor induz o camelo, sem que este alcance a cenoura. Como a mídia impõe o que se deve pensar, indefinidamente.

Da mesma maneira, um cachorro vai atrás da roda de um carro. Mas, quando o mesmo para, não sabe o que fazer. Então, espera outro para correr atrás. Assim, agimos: sempre atrás de ‘produtos’ ou ‘ideias’ que pensamos nos satisfarão – mas, por quanto tempo? Quando o conseguimos, perguntamos perplexos: ‘e agora?!’ Sem resposta, vamos atrás de outro.

Essa é a razão pela qual os campeonatos de futebol nunca acabam: Estadual, Libertadores, Brasileiro... sem tempo para comemorações. Apenas novas camisas para torcedores ‘atrás da roda’.

Somos dependentes desse mito perfeccionista. Mas, nos assustamos com o alcance da perfeição. Seja no mundo ocidental, da estética clássica; seja no mundo oriental, do exagero ‘zen’ da busca introspectiva, superior ao materialismo – sempre me perguntei: ‘por que o Dalai Lama vende seu livro, então?’

E, assim, um socialista nunca será feliz num mundo perfeito, pois não terá mais do que reclamar. Nem um banqueiro jamais se saciará, pois se prende ao vício pelo qual vive. ‘O que fazer?’ perguntam-se, para o carro da História; que, há muito tempo, já passou.

Exatamente por isto, o Coiote nunca alcança o Papa-léguas: morreria junto com o interesse. Todo aquele tempo, desenho após desenho, dia após dia, ficávamos, ingenuamente, na expectativa do pobre Coiote papar o Papa-léguas sacana. Na verdade, nós éramos os sacaneados; como somos até hoje pelos ideais sócio/capitalistas que nos vendem. Nem Che Guevara, nem Bill Gates! O Coiote já não sabe mais para onde correr. Vende sua alma – ou, seu voto - por uma calça da moda ou, como Judas, pelas ‘trinta moedas’ do Bolsa Família.

A política no Brasil, por esta razão, nunca atenderá as necessidades do eleitor. Sempre o manterá na escravidão disfarçada, temendo – tremendo – perder seu eleitorado. Ficará na promessa, com o cidadão viciado na rotina dos produtos ‘Acme’. Como o Governo atual, que chegou ao poder com o voto do Trabalhador esperançoso, mas nada faz para diminuir os lucros absurdos dos banqueiros; ou, pelos menos, os perniciosos encargos bancários, que só existem no Brasil - enquanto tantos ‘companheiros’ morrem, desumanamente, nas filas dos hospitais. Parece-me que os ideais socialistas mudaram, de 1979 para cá.

Da mesma forma, o Partido que representa os Trabalhadores de Bombinhas nada faz por eles que, em sua grande maioria, trabalha na temporada das 7 da manhã às 2 da manhã, do dia seguinte, sem receber horas extras. Quanta sacanagem!

Na verdade, na política brasileira, educar e fazer justiça dá medo. Medo de que o eleitor adquira cultura e perceba o quanto é enganado. Tal política, de esquerda ou de direita, sobrevive da ilusão eterna do Bolsa-escola; sem escola. Mantendo a eleição de seus candidatos e abusando da boa fé popular. Candidatos que debocham da opinião pública, como Marta Suplicy e Renan Calheiros.

Afinal, todos sabemos que, enquanto o coiote se arrebenta, o papa-léguas fica rindo.

Bip-bip!!