Breve Ensaio do Tempo e do Momento
Em 1962, dois representantes do Governo Indiano ligaram para Richard Attenborough convidando-o para filmar “Gandhi”. Naquela época, Attenborough era apenas um ator (décadas mais tarde, ele faria o papel do dono da ilha, na trilogia “Jurassic Park”), sem larga experiência com cinema. Grandes cineastas, como David Lean (“Doutor Givago”, “Laurence da Arábia”), recusaram o projeto. Richard topou. Teria que, pela primeira vez na vida, escrever, dirigir e, mais ainda, produzir um grande filme. Como não tinha dinheiro, levou vinte anos para juntar toda a grana e, finalmente, filmá-lo, em 1982.
E aqui fica a pergunta: tivesse Richard os recursos financeiros, em 1962, “Gandhi” seria o sucesso que foi, levando oito Oscars® (1983), batendo "Tootsie", "ET - O Extraterrestre" e outros filmes de porte?
Com certeza, Bem Kingsley não teria protagonizado o grande líder político e pacifista, ganhando a estatueta de melhor ator e se tornado o fenômeno do cinema que é hoje. Pois, Kingsley tinha 17 anos de idade e pouca experiência dramática; e Attenborough não viria a conhecê-lo.
O que quero dizer é que muitas vezes ficamos ansiosos em concluir um projeto quando, na verdade, o próprio projeto tem vida e seu momento de maturação.
Margarite Yourcenar levou quase três décadas para concluir “Memórias de Adriano”. Sendo que, por muitas vezes, deixou-o engavetado por anos. Com este livro, chegou a Academia Francesa de Letras.
James Joyce escreveu pouquíssimos livros por longos anos. É um dos maiores autores da História da Humanidade.
Joseph Conrad era polonês. Aprendeu frances na Marinha Mercante francesa . Mudou-se para a Marinha Mercante Inglesa e, lá, aprendeu o inglês com os marinheiros. Cansado da profissão, aos 38 anos, resolver escrever; em inglês. O clássico filme “Apocalipse Now” foi inspirado em sua maior obra, até hoje, referência nos ensaios dos estudantes sobre literatura inglesa: “Heart of Darkness”. “Lord Jim” é outra obra sua de incrível alcance.
Em suma, meus amigos: facilmente ficamos ansiosos – e eu lhes digo isto porque estou em fase de expectativa e que também melhor fui sucedido quando mais soube esperar – querendo logo o que vem pela frente. No entanto, nossos projetos não acabam com o passar do tempo. Ao contrário, eles amadurecem em busca de seu momento pleno, ideal.
Nosso tempo tem vida própria e devemos sentí-lo, sem postergá-lo ou adiantá-lo. Sem acomodação ou aflição.
"A Arte é pela Arte", e está em nosso coração. Não pertencendo ao artista, mas este sendo meio dela. Do contrário, seremos máquinas orgânicas; Hal 9000s, em nossos egos duvidosos.