VERGONHA NA ACADEMIA DE LETRAS

Puritânia era um país comum...Tinha todos os elementos de um país comum. Gente alegre, gente pobre, gente rica, gente feia, gente bonita...   Gente inescrupulosa (a esses davam o nome de políticos), gente sábia (a esses davam o nome de catedráticos), gente infeliz (a quem davam o nome de povo).
Era um país com tantas estruturas complexas de uma sociedade completa, que se parecia com um país decente.   E a gente pobre mais a gente infeliz tentavam realmente fazer daquele lugar um país decente. 
Mas tinha algo que incomodava a quase toda gente. Era a leitura. Muitos não sabiam ler. Dos que sabiam, muitos não sabiam ler plenamente. Liam as linhas e pulavam as entrelinhas. Liam os explícitos e gaguejavam nos implícitos. Liam as notícias policiais e engasgavam nas notícias econômicas, políticas, sociais...
E por pouco saberem ler, não se importavam com o seu órgão maior de um povo que se diz letrado (e alfabetizado ou vice-versa, não necessariamente nessa mesma ordem...) A APL (Academia Puritanense de Letras). O povo não entendia como pessoas que sabiam escrever tão bem não conseguiam ser membros da APL enquanto outrros, por apadrinhamentos diversos, chegavam lá.
E dentre os que chegaram, Zé do Bigode era o mais controvertido. Porque era político, falava difícil, escrevia complexo...  E se tornara um imoral. Quer dizer imortal. Primeiro imortal, depois imoral. Ou será que estou confundindo a ordem cronológica das coisas?
De qualquer forma, quando a imoralidade sujou seu nome, seus pares políticos têm feito tudo para limpar. Mas o povo de Puritânia merece mais. Acostumado que já está com o puleiro sujo, já não se importa com a corrupção, a imoralidade e a bestialidade da elite política.
Mas manchar a casa das palavras, dos que escreveram com alma e coração... Isso deveria ser repudiado. Que acabe em pizza a imoralidade da esfera política, todo mundo já espera.  Mas que essas imoralidades sejam imortalizadas em um espaço cultural de primeira grandeza...  é inadmissível.