11 de Agosto de 1999

No último dia 11 de agosto, o mundo todo, voltou-se apavorado com a possibilidade de que a previsão feita por Nostradamus, fosse concretizada.

Seitas de fanáticos organizaram-se a fim de estarem juntos no final dos tempos.

Pastores do apocalipse pregavam nas ruas, oferecendo a última oportunidade á pagãos de encontrarem a salvação!

Hoje, dia 12, estamos aqui, nada acabou, então questiono-me

Mas que tola e hipócrita, é esta sociedade mundial, afinal o fim do mundo esta aí, todos os dias, não esta?

Nos noticiários da tv, nas ruas, favelas, cidades inundadas por ondas crescentes de violência a cada dia.

Angustiante é ver a humanidade, neste eterna letargia, parece que todos, ao menos uma grande massa, recebe ao nascer, uma espécie de programação.

Sim são programados de modo que não sintam em demasia.

Aliás, alguns nada sentem ,apenas seguem, o caminho do gado, obviamente existe o gado bem alimentado, o das prósperas fazendas, mas, existe também, o gado pobrinho, mirrado, mas ambos gado o são!

E assim cada vez mais e mais currais vão se erguendo.

Nostradamus, como pôde levar tantas cabeças, ao pânico de deixar de existir!

Talvez, quissesse ao profetizar, oferecer ao gado geral, uma oportunidade de deixar de gado ser, sim, arrancar os cabrestos, as velhas amarras, passando assim, quem sabe a pensar!

Será que não percebem em sua loucura coletiva que o mundo já acabou?

Acaba todo dia um pouquinho!

Desgasta-se ambientalmente, moralmente, socialmente!

O fim derradeiro nos embala dia após dia, o encantamento e aquela magia típicas da infância á muito estão findadas, crianças sofrem abusos em todos os segmentos, os mais velhos, idosos, ou melhor idade, como alguns preferem, são menosprezados pelo sistema.

Após anos de uma vida dedicada ao trabalho, perambulam por ruas vendendo, pedindo, carecendo apenas de dignidade.

Adolescentes, jovens vidas, prostituem-se em bares, bordéis, vendendo fácil, o que não tem preço.

Pais perdendo filhos, em um sinaleiro qualquer, onde tudo acaba,sonhos se perdem com o estampido de um disparo.

Mães drogadas, usando crack, deixando a essência da vida escapar por entre suas mãos, como areia da praia.

Saõ tantas infinitas e incontáveis aberrações, estatísticas, que se, a minha pessoa, coubesse relatá-las todas, seria no mínimo mais de cinco encarnações!

Gado,gado, gado, o gado não pensa, não, o gado apenas nasce, cresce e morre!

Sinto, uma estranha sensação, que agora em meu discutir com os pensamentos, necessito proferir.

Penso que louco sou, daqueles que geito não tem mais não, parece-me que não partilho a mesma vida do gado geral, quando caminho pelas ruas da cidade, olho ao redor, e sinto como se estivesse assistindo um filme, invade-me um a sensação de estar á parte da cena!

Hum, creio eu, existam outras pessoas que sentem a mesma sensação, tu por exemplo, que chegaste até este ponto da leitura, acaso, não seria gado também, se houvesse encerrado a mesma logo nas primeiras linhas, aliás, nem haveria se proposto a ler tal ensaio!

Então é aqui que sinto-me fazendo parte de algo, em sua presença, em que escrevo, somos cúmplices.

Enquanto estamos aqui, o gado leva sua vida, alguns criam leis absurdas, surreais, outros desviam verbas de currais alheios, públicos, existe também aquela espécie que gosta de molestar novilhas, gado pedófilo!

Outro dia, deparei-me com uma espécie de gado, que apesar de ter deixado a ignorância linguística, enfim, adquirido o saber ciêntífico, não deixou, de gado ser, acadêmicos, doutores, phds, em sei lá o que.

Vivem, como se a impávia, lhes fosse constante companheira, amiga constante, e em suas conjecturas, ponderações, bancas, deixam a soberba atingir seu ápice!

Gado tolo este, tanto estudam, tanto lêem, mas não possuem a sensibilidade de vislumbrar pequenas coisas do cotidiano, não enxergam cenas raras!

Hum, existe também o gado sarado, forte, robusto, apreciam tanto a sua forma física, que esqueçem de modelar a alma!

Sim, sim, o gado do shopping, comprar, comprar, comprar,

é uma pena que sensibilidade não esteja á venda em caixinhas!

E o que dizer, do gado, que aprisiona seu semelhante, trabalho escravo em fazendas de ricos latifundiários, políticos, banqueiros safados!

Acorrentam almas, passam de vilarejos em vilarejos, anunciando trabalho, só esquecem de dizer, que o mesmo é escravo!

Já chega na fazenda o pobre gado, devendo a viagem, aos poucos, criam dívida na venda, que tem dentro da fazenda, então só sairão dali, caso, alguma equipe de reportagem se digne a encontrá-los.

Quando, tal fato acontece, só não entendo uma coisa, porque nunca é citado o nome do dono das tais terras, o cabeça do esquema, nunca divulgam nomes, quem dirá a cara dos safados!

Nossa, acho que preciso parar, afinal, mais cinco encarnações, ainda estão a me aguardar, terei tempo nas demais para relatar as bestialidades que faltam!

Meu caro amigo distante, Nostradamus, sinto lhe informar, que sua tentativa de movimentar um pouco as coisas por aqui, de nada adiantou!

Continua crescente o GADO ausente, displicente, que não enxerga nada além de seu próprio pasto!!!!

Julia Lopes Ramos
Enviado por Julia Lopes Ramos em 03/01/2009
Reeditado em 03/01/2009
Código do texto: T1365073
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