A hipocrisia da "religião" e a hipocrisia da "ciência"
“Epidemias mortais vêm destruindo gerações e cerceando qualquer possibilidade de desenvolvimento. Parar sua expansão e depois reduzir sua incidência dependerá fundamentalmente do acesso da população à informação, aos meios de prevenção e aos meios de tratamento. (Sexta declaração da campanha 8 jeitos de mudar o mundo)
Ela passou a chamar a atenção das autoridades de saúde, governos e da população a partir da década de 1980. Inicialmente com alta incidência em homossexuais em pouco tempo não resistiu a “homens heterossexuais” que mantinham relações homossexuais, eram infectados pela Aids e posteriormente infectavam suas parceiras. Depois se registraram casos de transmissão de mãe para filho e em transfusões de sangue infectado, cai por terra a ideia de grupo de risco, identificando-se um comportamento de risco (promiscuidade e falta de prevenção). Hoje o mundo conta com mais de 30 milhões de infectados, sendo que 2/3 desses estão na áfrica subsaariana, área mais pobre do continente. No Brasil já são mais de 730 mil casos. De 1980 até 2007 foram registrados mais de 2000 casos no RN (com quase 800 mortes). Entre 1993 e 2005 registrou-se 305 casos da doença em 31 cidades do Médio e Alto Oeste do RN, com 89 mortes. O que surpreende é o aumento de casos entre jovens de 13 a 24 anos, mesmo sendo um dos grupos com maior acesso a informação e a formas de prevenção.
No fim do mês de julho foi divulgado aqui no Brasil o relatório global sobre epidemia de Aids 2008, demonstrando que as ações de prevenção da doença, começam a dar resultados, mas são ainda insuficientes para reverter o panorama da epidemia mundial. Aqui entram as hipocrisias citadas no título desse texto, lembrando que as expressões religião e ciência foram postas propositalmente entre aspas, e eu explico.
As igrejas cristãs vêm sistematicamente se opondo a distribuição de preservativos (camisinha), levando em consideração seus princípios religiosos, em especial os que vetam a prática de sexo antes e fora do casamento. O que se reveste de hipocrisia é que para esses religiosos é preferível fechar os olhos para uma realidade onde mesmo entre pessoas que se declaram cristãos a prática sexual antes do casamento é uma realidade (muitas vezes provocadas pela falta de orientação nas igrejas, associado a curiosidade e desejo natural do ser humano) levando as pessoas a um duplo “pecado” contra as normas da igreja e contra a saúde ao não usar o preservativo (pelo menos um pecado a menos). Isso sem falar nos casos de infidelidade conjugal e o risco dos parceiros que não usam camisinha dentro do casamento.
Por sua vez, no afã de buscar uma forma eficiente de combate a disseminação da doença, os “cientistas” elegeram a camisinha como principal aliado das campanhas de prevenção, instaurando recentemente uma nova polêmica pela possibilidade de distribuição gratuita de preservativos nas escolas para adolescentes e jovens. Outra forma de hipocrisia, pois embora sabendo que a iniciação sexual dos jovens é cada vez mais cedo, profissionais das áreas de saúde e psicológicas sabem que nessa idade as pessoas ainda não estão preparados nem física, nem emocional e nem psicologicamente para as implicações da prática sexual, como gravidez e DSTs e a abstinência e planejamento podem sim ser usadas como formas de prevenção.
Com a gravidade demonstrada pelos números, mas que causam muitos transtornos e dor a várias famílias poderíamos nos preocupar em pensar um programa de prevenção que levasse em conta o combate a promiscuidade, a responsabilidade na prática sexual, a prática de sexo seguro e o apoio psicológico e distribuição gratuita de remédio aos infectados.
Ibnéias Costa da Silva , em 09/08/2008.