Vende-se Uma Ilusão-Naldo Velho & Negócio Fechado-Di Virtuoso
VENDE-SE UMA ILUSÃO
NaldoVelho
Cortinas rasgadas, janela entreaberta,
sala sombria, estranha, inquieta.
Sobre a mesa de centro, num vaso de flores,
rosas murchas, faz tempo.
No fundo da sala, quadros amarelados,
retratos de família, lembranças de um passado.
Na parede ao lado, numa estante,
livros, empoeirados, fechados.
Deitado num sofá um siamês
lambe as patas, e a tudo observa...
No canto da sala, numa pequenina mesa,
um abajur aceso, pálida luz, tristeza.
Por uma porta que liga, a sala ao corredor,
dois quartos dispostos, opostos, fechados
e um pequeno e aconchegante banheiro.
No final do corredor, espaçosa cozinha,
porta dos fundos e um amplo basculante,
de onde se pode ver, num quintal mal tratado,
árvores hospedeiras de orquídeas e trepadeiras.
Na frente da casa, numa pequena varanda:
samambaias, bromélias e uma espreguiçadeira.
Rua Noronha Torrezão, já nem lembro o número,
pois o que restou em minha mente
foi uma pequena placa afixada no portão:
VENDE-SE UMA ILUSÃO!
Abril/2012
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NEGÓCIO FECHADO!
Dioni Fernandes Virtuoso
Ao passar em frente ao portão
e ver o que na placa estava escrito,
embora, para muitos, esquisito,
para mim estava claro,
tomei a decisão!
Entrei pelo terreno mal cuidado,
onde as orquídeas e trepadeiras desoladas,
mantinham-se lindas na fé
de que algo bom iria acontecer
e o cenário de outrora,
voltaria a florescer...
As bromélias não tiveram a mesma sorte,
cobertas pelo mato,já sufocadas,
à beira da morte
lutavam para sobreviver...
Olhei pela janela entreaberta, chamei em vão!
Arrisquei abrir a porta, percorri cada canto,
fui abrindo as janelas, deixei o vento correr,
levando com ele o mofo das coisas ruins que ficaram para trás...
Muita coisa para ser feita, mas já sabia por onde começar!
Largar a água do perdão por tudo,
passar a esponja do esquecimento na má recordação,
replantar as flores dos sonhos e fazer novas semeaduras...
Apaguei a luz do abajur, decidi ali morar.
Arranquei a placa de "Vende-se Uma Ilusão"...
Negócio fechado!
Agora é só assinar a papelada
e colocar uma outra placa no portão:
"Bem vinda Esperança! Aqui, o Amor fez sua morada!"
Criciúma/abril/2012